Boa tarde amores! Como ontem ainda
estou na batalha pra organizar tudo no trabalho, mas vou editando da melhor
forma possível. Então fiquem com mais um capítulo. Espero que curtam bastante.
Título: Um Selvagem Diferente
Autora(o): Lunah.
Shipper: Bellard
Gênero: Romance, Comédia, Universo Alternativo, Amizade, Lime
Censura: NC-18
Autora(o): Lunah.
Shipper: Bellard
Gênero: Romance, Comédia, Universo Alternativo, Amizade, Lime
Censura: NC-18
Um Selvagem Diferente
By Lunah
Atenção: Este conteúdo
foi classificado
como impróprio para
menores de 18 anos.
"Estou ciente, quero
continuar!"
Capítulo 35 - Encruzilhadas -
Parte 2
Uma semana se passou e minha
relação com meus amigos continuou estranha. Conversávamos, saíamos juntos, mas
já não tínhamos a mesma dinâmica de espontaneidade e união.
Ficava me perguntando a causa
dessa ruptura e as possibilidades eram muitas: culpa por não terem aceitado a
parceria no projeto; saudade dos novos amigos da faculdade; frustração por
cancelarem seus planos de férias para ficar comigo... Especular sempre me
deixava pra baixo e isso refletia no meu modo de tratá-los.
Por volta das 15h, nos
encontramos em uma lanchonete perto de casa. Alice e eu fomos ao banheiro
enquanto Jazz esperava sozinho em uma mesa. Emm não ligou justificando o atraso
e consideramos isso um “fora”.
— Desculpa ter passado uns meses
“off line”. Acabei nunca perguntando o que rolou realmente entre você e o
Emmett. — Falei enxugando as mãos com papel toalha.
— Transamos naquela noite porque
estávamos bêbados. — Entediada sentou na ponta da pia. — Como ele não tocou
mais no assunto também fiquei na minha.
— Como conseguem fingir que nada
aconteceu? — Balancei a cabeça sem entendê-los.
— Sei lá. — Cruzou os braços com
estranha indiferença.
Desconfiada estudei seu rosto por
um momento.
— Alice?
— Eu. — Fitou-me toda esquisita.
— Sente alguma coisa pelo Emmett? — Estreitei os olhos
sentindo que tinha “trêta naquela mutrêta”.
— Defina “coisa”. — Desconcertada,
começou a arrumar o cabelo.
— “Coisa” número um: brincou de
sete minutos no paraíso com ele quando tínhamos 13 anos. “Coisa” número dois:
odiava acidamente Rosalie. “Coisa” número três...
— Bella, vai lamber uma tomada! —
Mostrou-me o dedo do meio.
— Eu não acreditoooo! —
Chacoalhei as mãos, extasiada. — Pirei quando vi vocês juntos porque achei que
fosse só depravação. Mas quem diria... É amor! — Rasguei uma folha de papel ao
meio e joguei para cima como se fosse confete. Sem poder me conter, comecei a
provocá-la como a peste sempre fazia comigo. Caprichei na voz melosa. — Tão
lindinha você. Que menina mais meiga... Bella quer apertar suas bochechinhas. —
Pisquei os olhos teatralmente.
— Que desinfetante poderoso foi
esse que você cheirou? — Rosnou por entre dentes. — Sabe de uma coisa? Estou
deletando esse momento agora. — Apertou uma tecla imaginária. — Fui! — Lice
saiu do banheiro e a acompanhei, saltitando de alegria.
Havia pouquíssimos clientes na
lanchonete e eu sorri para vários, quase declarando em voz alta que “o amor é
lindo”.
— Demoraram muito no banheiro.
Credo, esse tipo de necessidade se faz em casa. — Jazz reclamou quando sentamos
à mesa.
— Deixa de ser estúpido. — Não
conseguia mais parar de sorrir. Minha amiga deslizou pelo estofado de couro
fugindo de mim, mas fiquei na sua cola. — Lice tem uma coisa pra contar.
— Tenho? — Espantada, arregalou
os olhos.
— Alice está apaixonada pelo
Emmett. — Anunciei com a cara mais deslavada do planeta.
— Sua putenga! — Enfezada, bateu
a mão na mesa com força. — Quer levar uma surra, égua do meu nojo?
— O que foi? — Exatamente como um
dia ela fez comigo, fingi surpresa ao murmurar. — Era segredo?
Meu irmão nos encarava
embasbacado. O coitado estranhava a súbita inversão de personalidades. E, claro,
ficou enojado ao imaginar Alice e Emmett juntos. Por conta disso, ainda
digerindo a idéia, balbuciou:
— Ma ei usu.
— Tu usa o quê? — Arqueei a
sobrancelha sem entender.
— Que língua é essa, meu filho?!
— Lice continuou soltando fumaça pelo nariz.
— Falei “não acredito” em
estoniano. — Ele revirou os olhos bastante impaciente. — Vamos ser um povo mais
culto, né?
— Tou com medo. — Sussurrei
fitando o vazio, imaginando por que raios o estoniano voltara pras nossas
vidas.
— Alguém me situa: O Emmett?
Como? Quando? E o mais importante: por quê? — Jasper balançou a cabeça mais
perdido que a Bogdanov no inferno.
— Tá bom. — Alice chacoalhou as
mãos no ar, querendo apagar o início da conversa. — A verdade é que sempre tive
uma queda picototinha pelo Emm. Ou seja, se essa história
vazar, vão acordar no hospital se alimentando por uma sonda.
— Querida, você apaixonada chega
a níveis diabéticos de doçura. — Ironizei adorando pegar no pé dela.
— Detalhes. — Jazz exigiu
inclinando-se sobre a mesa. — O danado sabe?
— Claro que não! Somos
praticamente irmãos, seria um incesto torto. — Alice esfregou o braço fingindo
se arrepiar.
— Torto é esse seu cérebro,
porque vocês já transaram. — Retruquei revoltada.
— Não acredito que ele desceu o
sabugo em você! — Jazz esbravejou fazendo uma cena. — Por que sou sempre o
último saber das coisas? — Escancarou os braços exageradamente.
Imediatamente Lice e eu afundamos
no assento, escondendo nossos rostos atrás de um cardápio. Percebendo o vexame,
meu ridículo irmão soltou uma risadinha nervosa e começou a se justificar com
os clientes.
— O que eu disse foi no sentido
literal. — Em voz alta passou a assassinar o bom senso. — Sabugo não foi uma
metáfora para pinto. — Pigarreou. — Aliás, ninguém aqui está pensando em
pintos.
— Fale por você, meu querido. —
Alice suspirou com um sorriso.
Pela visão periférica, vi uma mãe
tapando os ouvidos da filha pequena.
— Ai... Nosso bom e velho costume
de lançar merda no ventilador. — Considerei a idéia de meter um saco de papel
na cabeça.
Meu irmão esperou por trinta
segundos a poeira baixar e voltou a falar besteira.
— Alice, quando for jogar a bomba
na cabeça do Emm posso assistir? — Seus olhos cresceram com a vontade de ver o
circo pegar fogo.
— Isso não vai acontecer. — Ela
se recompôs empinando o nariz. — O que pensam que eu sou?
— Hipócrita. — Minha resposta
categórica deixou-lhe muda. — Me fez rolar por uma ladeira de confusões até eu
me acertar com Edward, mas quando o lance é com você...
— Shhhh! — Deu com o cardápio na
minha cabeça. — Vocês nem sabem comer de colher e querem me ensinar a comer de
garfo?! — Seu mau humor voltou com tudo.
— Perfeito. — Bufei cabisbaixa. —
Mais metáforas com talheres.
— Mudemos de assunto, aí vem o
Emmett. — Alice quase surtou com medo de darmos com a língua nos dentes.
— Foi mal pelo atraso, meu pneu
furou. — Emm sentou ao lado de Jasper. — O que estão bebendo? — Estranhou a
mesa vazia. A frase seguinte não soou sarcástica. — Estamos doentes?
— Deixa. Eu pago essa rodada. —
Levantei pouco disposta.
Fui até o balcão e pedi ao
atendente quatro chopes. Enquanto ele enchia as tulipas, distraí-me com um
comercial de carro que passava no televisor fixado na parede, acima de sua
cabeça. Após a propaganda, o telelocutor do Discovery Channel começou a
anunciar a programação. Desinteressada, desviei o olhar e me foquei nos chopes
que já estavam no balcão.
Com dificuldade, juntei as
tulipas e as ergui, morrendo de medo de deixar tudo cair. Bem devagar, me virei
e na velocidade de uma lesma comecei a me mover. Olhei para meus amigos e os
encontrei encarando-me de forma estranha, com se eu fosse um fantasma. Confusa,
parei e percebi que não era a mim que encaravam. Foi aí que a voz grave e
encorpada do telelocutor da TV me chamou a atenção. Sem me mexer, atentamente
ouvi:
...
A aventura agora tem um rosto.
E um nome legal também. Acompanhe esse cara enfrentando sozinho a mãe natureza.
Em qualquer lugar, e em qualquer hora. Destinos e desafios inusitados.
Virei-me vagarosamente e olhei
para o televisor.
“Quando eu era garoto, tudo que
eu queria era viver aventuras. Acampar, me sujar de lama, subir em árvores...
Só me divertir...”
Quem disse isso foi Edward. Podia
até sentir o humor na sua voz ao lembrar-se dessa fase. Na tela apareceram
trechos de vídeos caseiros da sua infância, nos quais ele fazia os mais
diversos tipos de estripulias em Malaita. Em estado de choque, deixei os copos
caírem no chão, me transformando numa estátua de cera.
“Quando se é criança, nunca se
pensa nas consequências. Hoje eu penso, mas me arrisco do mesmo jeito.”
Havia uma empolgação genuína na
sua entonação. De repente, ao som de Runnin'
Wilddo Airbourne,
Edward surgiu no vídeo.
Na edição de imagens ele aparecia
descendo um rio numa balsa improvisada; chegava ao topo de uma montanha
carregando um equipamento nas costas; tentava abrir caminho por uma mata
fechada; sentava exausto numa duna no meio do deserto; e corria por uma
planície branca, em algum lugar gélido. Eclodiam na tela títulos como: Panamá,
Namíbia, Guatemala, Tanzânia e Sibéria.
O rosto que eu nunca esqueci,
enfim, ficou suficientemente visível. Suas feições revigoradas delatavam o
entusiasmo em conhecer tantos lugares e poder desafiar os próprios limites. A
visão, junto com a voz dele, fez com que um turbilhão de sentimentos tomasse
conta de mim. Em compensação, continuei estranhamente imóvel.
Quando ampliaram o close, pude
ver Edward de pé, em um estúdio com o nome do programa no plano de fundo.
Absolutamente lindo, usava jeans, camisa de mangas compridas cinza e por cima
uma echarpe listrada. Sem dúvida, estavam usando a ótima aparência dele para
atrair o público feminino para o programa que era voltado para o público
masculino.
“Há circunstâncias onde só é
possível sobreviver com os conhecimentos certos e algumas habilidades. Eu sou
Edward Cullen e os levarei aos lugares mais inóspitos e incríveis do
planeta."
Acompanhado da narração, apareceu
em letras grandes na tela:
Algum lugar no mapa entre o
perigo e a diversão: INSTINTO RADICAL. Estréia sábado, às 21:00h. Só no
Discovery Channel.
...
Meus amigos me rodearam num
piscar de olhos. Desnorteada como nunca, passei a gesticular freneticamente,
sem conseguir respirar, muito menos falar. Parecia que meu coração tinha
entalado na garganta e meus membros recebidos uma forte descarga elétrica. Entrei
em parafuso!
— Eu sei! Eu sei! — Alice me
abanou com as mãos. — Extravase, pode ser que ajude.
Sem alternativa, foi isso que
fiz:
— AAAAAAAAAHHHHHHHHH! MEU
CRISTINHO SERENO! — Definitivamente não conhecia a potência da minha própria
garganta. — O QUE ESTÁ ACONTECENDO? — Despejei o desespero em cima da infeliz,
chacoalhando-lhe pelos ombros magrinhos. Até me esqueci que estava em público.
— Agora deu. T-zed no Discovery é
mais chocante que Lice apaixonada por Emm. — Jazz murmurou sem pensar.
— Como? — Emmett inclinou a
cabeça de queixo caído.
Por um momento ninguém se mexeu
ou falou. Porém minha atordoada amiga alcançou vários tons de vermelho-morte
enquanto seu lábio inferior tremia.
— Extravase. — Com pena dela
sugeri seu próprio conselho.
Alice não perdeu tempo:
— AAAAAAAAAAAHHHHHHHHH! — Porém
esse grito estridente veio de Jasper, que levou um chute num lugar bem
inapropriado e que não fará falta nenhuma pra humanidade.
O coitado desabou para o lado
feito um tronco velho.
(...)
— Como? Como assim? Não entendo!
Como? — Fiquei repetindo, andando de um lado para o outro na sala de casa.
— Fica fria. Vou achar alguma
coisa. — Meu irmão falou fino, com uma bolsa de gelo no local machucado. Ele
estava acessando de seu novo notebook o portal do Discovery Channel.
Nós entramos em uma caçada
atrapalhada por qualquer informação sobre o paradeiro de Edward. Levantamos
algumas hipóteses, mas nada explicava satisfatoriamente o que vimos na TV.
— Achei! — Minha amiga ergueu uma
conta de telefone. Foi ela quem teve a idéia de procurar na pasta de contas do
meu pai a conta do mês em que o resort funcionou. Segundo Alice, Edward ligou
para Sarah uma ou duas vezes. — Até que foi fácil. Só tem um número de celular
com o DDD de Los Angeles aqui.
— Ótimo. — Corri e arranquei a
conta de sua mão. Imediatamente peguei o telefone sem fio e comecei a discar os
primeiros números.
— Espera. — Emmett me tomou o
aparelho. — Respira e pensa. Ed deve ter passado muitas semanas gravando o tal
programa, então por que não te procurou?
Engoli em seco, incomodada com os
olhares analistas e protetores.
— Eu não sei. — Respondi baixo. —
Mas vou ficar louca se não descobrir. — Estendi a mão, exigindo o telefone. —
Por favor. — A contragosto, Emm cedeu. Nervosa, voltei a discar os números. Depois
do terceiro toque alguém atendeu. — Sarah Ryan? Aqui é Bella Swan.
— Olá, Bella! Como vai você? —
Sua voz era de puro contentamento.
— Estou bem, acho... — Tomei
fôlego e fui direto ao ponto, sem me importar com o que ela pensaria. — Edward
está com você?
O silêncio no outro lado da linha
deixou-me intrigada.
— Não. Por que estaria?
— Não? — Confusa, fitei o
pessoal. Alice não suportou a curiosidade, foi até a base do telefone e o
colocou no viva-voz. — Vimos seu filho na televisão. Ao que tudo indica, ele
tem um programa no Discovery Channel.
— Está falando sério? —
Espantou-se mais do que esperávamos.
— Estou. Tem qualquer notícia
dele?
— A última vez que o vi foi na
sua casa. — Fez uma pausa pra pensar. — Ele está no país?
— Não faço idéia. — Suspirei
frustradíssima.
— Vocês não vão acreditar! —
Jasper exclamou de olho na tela do notebook.
— O que foi? — Sarah conseguiu
ouvi-lo.
— Adivinhem quem é o diretor e
produtor do Instinto Radical?! — Ele gargalhou. — Bruce Jones.
— O pai do Toby? — Espantados, Emmett
e Alice perguntaram ao mesmo tempo.
Fiquei muda por segundos, presa à
idéia de que aquilo era impossível.
— Bem, isso explica alguma coisa,
mas não esclarece tudo. — Alice ressaltou.
— Talvez Edward esteja com esse
senhor. — Pude notar que Sarah ficou interessada em encontrá-lo.
— Mas como o acharemos? — Com a
cabeça latejando, se tornou ainda mais difícil pensar.
— Não se preocupe, Bella. Darei
um jeito. Entrarei em contato com minha assistente e te ligo de volta em breve.
— Minha ex-sogra mostrou muita boa vontade.
— Obrigada. — Esperei ela
desligar.
— Então é isso? Vamos sentar e
esperar? — Lice se jogou no sofá, perto de Jasper.
— Parece que sim. — Impaciente,
gemi esfregando a testa.
— Bella, aqui tem o vídeo
promocional do Instinto Radical. Quer assistir, tipo, umas mil vezes? — Jazz
debochou erguendo o notebook.
— Ai... — Bufei cansada. — Me dá
isso. — Fui até ele e tomei o computador. Enquanto sentava na poltrona mais
larga, voltaram a me encher o saco.
— Vai mesmo ver isso mil vezes? —
Emm começou.
— Não seja estúpido! Dããã... Não
sou nenhuma mongó obcecada. — Pra dar ênfase, forcei a voz para sair arrastada
como de doente mental. Depois, afastei as mechas de cabelo do rosto só pra
disfarçadamente beijar a imagem de Ed na tela.
— Mentalmente saudável você,
hein?! — Lice zombou com um sorriso de orelha a orelha.
— Quer saber, chupa meu cotovelo!
— Rebati erguendo o cotovelo. — Sua hipócrita. — Revirei os olhos.
— Falando em hipocrisia... Alice,
por que nunca me contou sobre sua “despencada” por mim? — Emmett cruzou os
braços bastante convencido. O estranho é que você nunca foi assim.
— Eu já disse um milhão de vezes
que é mentira desse tripão da boca arregaçada! — Ela esbravejou jogando uma
almofada no meu irmão.
— Se eu fingir que sou esse sofá
vocês me ignoram? — Jazz implorou ainda com dor nas particularidades.
— Isso tudo é por conta dos
amassos que te dei quando tínhamos 13 anos? Hmmm... — Impressionado, Emm coçou
o queixo, refletindo. — Cara, eu era tão jovem e já tinha o dom.
— Pelo amor de Deus! — Ela já
estava a ponto de explodir. — Tu nem é meu tipo!
— Mas eu sou o tipo de todo
mundo. — O cara afirmou com uma patética arrogância.
— Prove. — Enraivecida, Lice foi
curta e grossa.
Emmett não hesitou. Encarou-me
arqueando a sobrancelha esquerda enquanto fazia sua melhor cara sexy.
— Rola? — Piscou o olho
sensualmente.
— Gostoso. — Lancei-lhe um beijo
de apoio.
O convencido voltou a encarar
Alice, apontando pra mim como se eu fosse seu selo de garantia.
— Tá bom ou quer mais, malandra? Infelizmente
até os marmanjos me querem. Dá uma olhada. — Voltou-se para Jasper. — Rola? —
Piscou o olho outra vez.
Meu irmão fechou a cara, inflando
as narinas de raiva.
— Eu tou contundido, não confundido. Sai
pra lá, mano véi, esse corpinho aqui... — Passou as mãos pelo peito. — Você
nunca terá!
Pois é, ele não quis colaborar.
— Santa paciência, Lice. Confessa
logo. — Coloquei pressão.
Ela se levantou e transtornada
desatou a falar:
— Leiam meus lábios. — Apontou
para eles. — Vocês são todos loucos! Isso aqui é um manicômio e eu vou escapar
daqui rapidinho. Nunca mais nem vou olhar pra suas caras feias, pálidas e
remeladas.
Em silêncio a estudamos por quase
meio minuto. Dando-se por satisfeito, Emmett anunciou com muita simplicidade:
— Que coisa... Ela me ama. —
Boiando na própria reflexão, ficou cutucando o dente com a língua.
Jasper eu apenas maneamos a
cabeça em concordância.
O chilique de minha amiga a
delatou. Era evidente que se zangava facilmente por ter vergonha dos próprios
sentimentos. Revoltada com nossa reação, estrebuchou rosnando feito um cão
raivoso. Por sorte, antes que pudesse nos matar com sua cólera radioativa, o
telefone tocou e corri para atender.
Para descontrair o ambiente,
coloquei no viva-voz.
— Alô?
— Oi, Bella. Consegui falar com Jones.
— Sarah disse calmamente.
— Edward está com ele? — Foi
impossível reprimir a curiosidade.
— Não.
— Não? — Precisei de um segundo
pra administrar a decepção. Sentei no braço do sofá e respirei com dificuldade
pela boca.
— Escuta, a ligação estava ruim,
mas obtive algumas respostas.
— Estou ouvindo. — Balbuciei.
— Jones tem uma pequena
produtora. Já fazia algum tempo que trabalhava no projeto Instinto Radical. O
problema é que ele não tinha recursos para avançar. Claro que não perguntei,
mas subentendi que estava meio falido. Ele partilhou suas idéias com Edward
quando eles estavam aí, mas o assunto morreu por um tempo. Segundo Jones, foi o
próprio Edward quem o procurou há cerca de quatro meses atrás, se oferecendo
para ser o produtor executivo. — Troquei um olhar de incredulidade com meus
amigos. — Depois de negociarem algumas mudanças no formato do programa,
gravaram cinco episódios. Jones ofereceu os episódios à rede do National
Geographic, mas foi o Discovery quem comprou os direitos de exibição.
— Chega a ser difícil acreditar.
— Confessei tentando compactar as informações. — Então Edward está agora em algum lugar do mundo gravando esse
tal programa?
— Não.
— Me perdi de novo. — Emm
resmungou no meu lugar.
— Jones disse que já faz vários
dias que ele voltou pra Malaita.
— O quê? — Levantei rápido demais
e tive vertigem. — Como é? Ele não pode ter ido! — Voltei a sentar porque o mal
estar não estava passando.
— Espera aí. — Alice se aproximou
intervindo. — Está dizendo que Ed gravou os episódios e depois simplesmente foi
embora?
— É o que parece. E Jones nem
sabe por que.
Todos se calaram por não
compreenderem a decisão de Edward.
— Ah, não. Isso não está
acontecendo. — Com lentidão comecei a encaixar os acontecimentos. — Era mesmo
ele na estação de trem. — Minha voz soou um pouco mais alta que um sussurrou. —
Era ele. — Tanto que rejeitei a verdade. — Era Edward.
— Estação de trem? — Sarah ficou
confusa.
Alice vendo que eu estava imersa
na conclusão, se dispôs a explicar:
— Semana passada Bella foi se
despedir de um amigo e Ed os viu abraçados. Ela ainda correu atrás dele, mas o
cara entrou no trem e se mandou. Nós pensamos que a coitada estava vendo
coisas.
— Que situação estúpida. — Jasper
se colocou de pé. — E daí que Bel estava abraçando outro homem? Desde quando
isso é atestado de namoro?
— Por favor, entendam que Edward
tem um jeito diferente de pensar. Talvez... — Sarah não soube como argumentar.
— Com todo respeito senhora Ryan.
— Emm se aproximou do telefone. — Mas Jazz tem razão. Além disso, Ed teve
quatro meses pra procurar Bella. Qual a dele afinal?
— Parem. — Implorei erguendo a
mão.
Ouvir os questionamentos me
magoava, pois a única resposta lógica seria de que ele não se importava tanto
comigo quanto acreditei. Mas aí essa idéia entrava em conflito com meus
conhecimentos sobre os sentimentos mais íntimos dele. Aqueles que desvendei
através do diário.
— Bella, me desculpe por
insistir. — Sarah aumentou um pouco o tom de voz. — Mas preciso te lembrar que
vocês não prometeram fidelidade eterna. O acordo foi que seguiriam suas vidas.
É possível que Edward tenha te visto feliz e achou que não tinha o direito de
interferir.
— Eu... Eu não sei. — As palavras
de Sarah pesaram na balança. — Não consigo imaginar um Edward que não lutaria
pelo que quer. — Angustiada, resolvi revelar o que martelava na minha cabeça. —
Mas pode ser que ele tenha mudado.
— Mudado? Fala sério, está
exagerando. — Alice quase riu de mim.
— Minha experiência diz que as
pessoas podem mudar em pouco tempo. — O ressentimento me impediu de segurar a
língua. — Olha só pra vocês, são meus melhores amigos e quase não os reconheço.
Tenho que aceitar que o mesmo pode ter acontecido com Edward.
Parecendo ofendida, Alice ergueu
as mãos, desistindo da conversa e se afastou. Imediatamente me arrependi do que
falei e quase engasguei com o remorso.
— Chega de rodeios. A questão é
que Ed foi embora. O que se pode fazer agora? — Jazz lançou sobre nós a dura
verdade.
Exausta, apoiei os cotovelos nos
joelhos, deixando os cabelos cobrirem meu rosto. Por vários e vários segundos
nada ouvi, tampouco falei. Meu coração voltou a ser torturado pelo sentimento
de perda, que se renovou devido às circunstâncias.
— Bella? — A voz de Sarah rompeu
o silêncio.
— Sim? — Ergui a cabeça para
ouvi-la.
— Só há um jeito de esclarecer
toda essa confusão. Mas você precisa realmente,realmente querer.
— Que jeito?
— Eu tenho um jato e sei como
chegar a Malaita. — Seu tom não era de brincadeira. — O que me diz, quer ir lá
e confrontar Edward?
Eu não estava preparada para a
proposta. Na hora só consegui pensar na frieza com que ele me tratou; na falta
de consideração em não me avisar que estava no país; no jeito que me deu as
costas... Não havia justificativas que amenizassem essas atitudes. Ainda que
não me quisesse como namorada, nossa amizade era sólida e especial. Ao menos
costumava ser...
Tive que lidar com as
expectativas quase palpáveis de todos. Ninguém ousou interferir, mas notei que
torciam por um “sim”. Tentando não me deixar influenciar, lembrei-me apenas de
um trecho do diário que se referia ao dia em que quase morremos ao saltarmos do
penhasco.
“‘Atados’ é uma boa palavra
para definir nossa situação, pois agora tenho uma dívida de gratidão com Bella
e farei até o impossível para honrá-la... Mesmo que os anos passem, e que a
lembrança do que aconteceu evapore de sua memória, se Bella precisar de mim, eu
retornarei a essa terra por ela.”
Edward esteve no meu mundo por
tempo suficiente para conhecer a maldade, o preconceito e a injustiça. Não
podia descartar a hipótese do incidente com Brad tê-lo transformado.
Entretanto, valia à pena atravessar o mundo pelo homem do diário, pelo amigo
que me ajudou no passado. Mas, principalmente, pelo selvagem por quem me
apaixonei. Eu merecia a verdade, seja ela qual fosse.
— Eu vou, Sarah. — Anunciei
convicta.
O ambiente mudou da água pro
vinho. Da apreensão para o entusiasmo contido.
— Ótimo. — Ela não conseguiu
esconder o repentino bom humor. — Mas preciso de pelo menos 48h para planejar a
viagem.
— Com licença. Não é querendo ser
uma pentelha-metida-de-uma-figa... — Alice chegou junto da mesa do telefone. —
Mas já sendo uma pentelha-metida-de-uma-figa, tem como irmos também? Sabe, pra
darmos um apoio moral à Bella.
Não sei como ainda fico chocada
com a falta de “simancol” dela.
— Tudo bem, o jato tem poltronas
suficientes. — Sarah devia ser canonizada!
Imediatamente os rapazes
comemoram erguendo os punhos fechados. Edward tinha falado muito sobre Malaita
e o pessoal não queria perder a chance de conhecer... Mesmo que isso significasse
me matar de vergonha.
— Muito obrigada, Sarah. — Tinha
a impressão de que iria passar o vôo todo repetindo isso.
— De nada. Daqui a pouco ligo pra
pegar o número do passaporte de vocês, mas antes irei pedir um plano de vôo aos
meus pilotos. Até mais.
Logo que ela desligou, meus
amigos saíram pulando de empolgação.
— Inacreditável! — Emm mordeu as
mãos, em ato esquisito de contentamento. — Vamos pra Malaita, hôhô-hôhoooo. —
Cantarolou dançando o hula-hula, crente de que lá era igual ao Havaí.
— Senhoras e senhores: a liga dos
vadios se prepara para decolar. — Jasper enfiou o chapéu na cabeça, se achando
o Indiana Jones.
— E que ninguém morra... —
Murmurei pelo canto da boca. — De vergonha.
(...)
Sarah cumpriu a palavra. Na tarde
de quarta-feira, pegamos nossas mochilas e a encontramos em um hangar alugado
no aeroporto executivo perto de Azalea Park.
Ela explicou que a rota de viagem
mais prática seria cruzando o México e fazendo uma escala no Havaí. Depois
sobrevoando a Micronésia até chegar a Papua Nova Guiné. Mas como havia alerta
de tufões no Oceano Pacífico, bem nas proximidades das ilhas havaianas, isso
não ia ser possível. Então nosso plano de vôo era cruzar o Atlântico e fazer a
escala na Nigéria.
Paris foi o lugar mais longe de
casa em que já estive. E olha que foi só uma excursão escolar com a turma do
curso de francês. Por esse motivo e outros, só acreditei que estava indo para
Malaita quando a aeronave decolou.
Acomodados nas largas poltronas
de couro bege, estavam meus amigos, a mãe de Edward e sua assistente pessoal.
Além de banheiros, o jato executivo também possuía uma prática cozinha, bar
completo e uma pequena sala de estar. Tudo requintado o bastante para me fazer
enxergar quão abastada era a Sra. Ryan.
As primeiras nove horas de vôo
foram tranquilas. Sarah cochilou, Alice e a assistente conversaram e os rapazes
ficaram assistindo filmes. Quanto a mim, fiquei praticamente imóvel na
poltrona. Não tirei os olhos da janela, observando o dia ir embora lentamente.
O único momento em que interagi com os demais foi quando ajudei a servir o
jantar.
Durante a madrugada, enquanto
sobrevoávamos o Oceano Atlântico rumo à Nigéria decidi me desculpar com meus
amigos. Aproveitei que Sarah foi à cabine dos pilotos e me dirigi até a salinha
onde jogavam cartas.
— Preciso dizer uma coisa. —
Sentei em uma das cadeiras ovais. Ninguém se manifestou, pelo contrário,
continuaram a jogar como se eu não estivesse ali. Sem me deixar levar por isso,
prossegui para aliviar a pressão no peito. — Desculpem pelo que falei na
segunda-feira. Vocês sabem... Sobre aquele lance de terem mudado.
Tínhamos evitado o assunto por um
tempo, mas ao abordá-lo, os deixei introspectivos.
— Só não é justo ficar magoada
por não querermos tocar a pousada com você. — Jasper se pronunciou primeiro, me
repreendendo como irmão.
— Eu sei. — Admiti cabisbaixa. —
Só preciso de mais um tempinho pra me acostumar com a situação.
— Podemos ter mudado um pouco,
mas você também mudou. — Alice alfinetou sem me olhar. — Tem sido estúpida
comigo, por isso não quero conversar agora. — Se referiu ao meu erro de ter
contato sobre sua paixão platônica a Jazz.
— Não acredito. O que deu em
você? — Sorri sem humor para engolir a afronta. — Quantas vezes me meteu em
situações embaraçosas ou falou barbaridades? Te desprezei por isso? Acho que
não.
— Qual é?! Tudo que faço é pra te
ajudar. Deixa de ser ingrata. — Ela se indignou sem motivo.
— Mas não estou sendo! Alice,
repito mil vezes se for preciso, está bancando a hipócrita. Que merda, não dá
pra aguentar isso! — Passei as mãos pelos cabelos, muitíssimo inconformada.
— De certa forma, Bella tem
razão. — Emmett tomou partido.
— Cala a boca que não quero ouvir
a sua voz moribunda. — Lice ainda estava irritada por ele brincar com os
sentimentos que ela mesma se recusava a confessar.
— Você é quem devia se calar. Ou
pelo menos ser mais corajosa e aceitar quem é. E inclua no pacote seus
sentimentos estranhos e tudo mais. — Emm odiou a forma como foi tratado.
— Show, então vai ser assim
agora? — Jasper se levantou e desembuchou estranhamente alterado. — Vamos
discutir por qualquer droga? O sujo falando do mal lavado? Inacreditável! Está
todo mundo sendo idiota. Bella ficou egoísta, Alice hipócrita e Emmett se
transformou num verdadeiro mentiroso.
— Mentiroso? — Emm também ficou
de pé, cobrando o que nem entendia. — Do que está falando?
— Sei que seu pneu não furou
naquele dia. — Meu irmão acusou convicto. — Falou pra Alice ser corajosa, mas é
você quem devia tomar coragem e confessar que não queria se encontrar com a
gente. — Sarcástico, peitou Emmett como nunca o vi fazer. — Aliás, aproveita e
diz também que só ficou em Orlando porque Bella não parou de choramingar.
— Isso é verdade? — Perplexa,
encarei Emmett, que por sua vez desviou o olhar, se recusando a responder. —
Meu Deus. — Decepcionada me ergui lentamente. — Não quero que fiquem comigo por
pena. Acho que mereço mais do que isso. De qualquer forma, garanto que não me
ouvirão mais choramingar.
— Típico! — Alice se colocou na
minha frente e passou a destilar palavras tão corrosivas quanto ácido. — Está
levando tudo pro lado pessoal, Bella. Sempre leva. Seguimos caminhos
diferentes, isso ia acontecer de qualquer jeito. Estava previsto! Mas apesar de
gostarmos de você, só consegue pensar que te rejeitamos. E digo mais, tem uma
verdadeira paranóia com isso.
Não consegui protestar por ficar
absolutamente boquiaberta.
— Ah, vai se danar, Alice! — Jazz
praguejou. — Você também está levando tudo para o lado pessoal desde que
colocou os pés na Flórida. Bella tem razão, está se afogando em hipocrisia.
— Como é?! Dane-se você e esse
suspensório horroroso! — Ela lhe mostrou o dedo do meio. — E já que é pra
encarar a verdade, saiba que seu novo visual é cadavérico! Parece o meu tio-avô
Agudim. — Enraivecida bateu o pé no chão. — E o coitado nem é tão esclerosado
quanto você!
— Que foda... Essas são as piores
férias da minha vida. — Emmett jogou na nossa cara rispidamente. — Não vejo a
hora de voltar pra faculdade e me livrar dessa babaquice. “Esses”
definitivamente não somos nós.
— Pra mim chega. — Ergui as mãos
desistindo da discussão, porém perdi o controle das palavras. — Fiz de tudo pra
ficarmos juntos. Dei tudo de mim na merda do projeto e só me provaram que não
dão à mínima. Quando voltarmos pra Orlando, por favor, cada um que siga seu
maldito rumo.
Fervendo por dentro, voltei quase
correndo para a poltrona. Encolhi-me nela e me cobri inteira com o cobertor.
Não sabia se Sarah tinha ouvido nossa discussão, mas se ouviu, preferiu não
interferir.
Parecia que o dia não ia amanhecer
nunca. Os ponteiros do relógio se moviam, mas lá fora a densa escuridão
afugentava a luz. Dentro da cabine havia um outro tipo de escuridão alimentada
pelo silêncio, mágoa e pesados julgamentos.
Perguntava-me quando os conflitos
iam acabar. Sentia-me como um vaso velho que foi muitas vezes quebrado e
consertado. Pedaços se soltavam com frequência e era preciso colar de novo, de
novo... E de novo.
O cansaço foi deixando meu corpo
mole. A dor de cabeça me obrigou a manter os olhos fechados e tapei os ouvidos
para abafar o som das turbinas. Então quando o sono ameaçou chegar, um forte
solavanco me deixou alerta. Foi estranho, pois até aquele momento quase não
houve turbulência. Olhei para o corredor e não ouvi comentários. Procurei
relaxar, mas segundos depois a cabine voltou a chacoalhar e dessa vez mais
forte. Quase no mesmo instante ouvimos o piloto pelos alto-falantes.
— Aqui é o Comandante Waite,
lamento informá-los de que teremos que atravessar um trecho de tempestade com
fortes turbulências. Por favor, coloquem os cintos de segurança. Faremos o
possível para sair dessa zona o quanto antes.
Nervosa, rapidamente afivelei o
cinto e baixei a cortina da janela, não querendo mais olhar através dela. Com a
pulsação disparando, ouvi a louça que estava na sala ali perto espatifar no
chão. O tremor continuou nos sacudindo e espalhando tensão pela cabine.
— Acho que vou vomitar. — Alice
avisou, retraída na poltrona atrás da minha.
Tomando fôlego, voltei-me para
Sarah, que estava do outro lado do jato.
— Sarah... Sarah me responda. —
Precisei chamá-la mais de uma vez, pois mantinha os olhos fechados. Nessa hora
lutei para me fazer ouvir, porque minha voz tremia devido a forte turbulência.
— Nossa situação é pior do que o piloto diz ser, não é? — Indaguei assim que
tive sua atenção.
— É claro que é, Bella! Acorda! —
Emmett vociferou descontrolado. — Acha que ele vai dizer: enfrentaremos uma
tempestade no meio do oceano, se preparem pra morrer?!
Por um segundo achei que era
exagero dele, mas aí notei que Sarah não o corrigiu. Ela tinha experiência de
vôo, conhecia os pilotos e ainda assim não conseguia falar, somente cravava as
unhas nos braços da poltrona.
Completamente aterrorizada, me
recostei no acento e imediatamente pensei no meu pai. Conforme sentia a instabilidade
do avião, a ânsia de vomito crescia e meus músculos enrijeceram. Assim como
Sarah, também me agarrei aos braços da poltrona. A impotência e o pavor tomaram
conta de mim de tal forma, que parecia que meu coração ia explodir dentro do
peito. Pisquei os olhos com força algumas vezes até conseguir elevar a voz.
— Só quero que saibam... — Arfei
com a visão embaçada. — que, aconteça o que acontecer..., amo muito todos
vocês.
— Ah, meu Deus, vamos morrer! —
Jasper tomou minha declaração como uma despedida, desencadeando um novo nível
de histeria.
Mesmo incapacitada, quis acalmar
os ânimos. O problema é que minha língua travou quando considerei as palavras
de meu irmão.
— EU ADMITO! ADMITO! — Alice
berrou. Olhei para trás e a vi com as mãos no peito. — Sempre fui apaixonada
pelo Emmett. — Começou a chorar de desespero e culpa. — Sempre! Não vou morrer
com isso entalado na garganta.
— Quando planejava me contar? —
Ele gritou de volta, bastante transtornado. — No meu leito de morte? Então se
dê por satisfeita!
— Sou tão hipócrita... — Lice
assumiu em prantos.
— EU PAREÇO UM TIO-AVÔ! —
Impelido pelas confissões dela, o coitado do Jasper entrou em parafuso e se
entregou às lágrimas. — Não é justo, eu pareço um tio-avô... — Ficou repetindo
desnecessariamente. — Um tio-avô!
— Me desculpa, Bella. — Alice
estendeu a mão e não consegui tocar nem na ponta de seus dedos, pois o tremor e
o meu cinto de segurança impediam o contado.
— AAAAAAHHHHHHHH! — Jasper
continuou preso na sua bolha de terror.
— Queria mais do que tudo te
ajudar na pousada. É o nosso sonho, mas me acovardei. — A coitada parecia de
fato arrependida. — Depois que dormi com Emm tudo ficou estranho. Tive medo de
que descobrissem o que sinto. Eu já não conseguia ser a mesma perto dele, então
achei melhor ir me afastando aos poucos.
— Está tudo bem, minha amiga. —
Me obriguei a sorrir para tranquilizá-la. —Nada do que foi dito ou feito antes
importa. Vamos esquecer tudo.
— Não acredito! Não acredito! —
Emmett voltou a se indignar com ela. — Não vê que me obrigou a fazer o mesmo? —
O encaramos sem ação, enquanto ele balbuciava incompreensíveis palavrões. —
Pensei que eu tinha
estragado nossa amizade ao te agarrar. Como não dava pra consertar as coisas,
decidi me distanciar até que ninguém mais lembrasse do que aconteceu na noite
da despedida do resort. Tem idéia do quanto foi difícil eu dizer não ao projeto
da Bella? Você é demente, Alice. Demente!
— Essas são as causas da nossa
droga de situação? — Vociferei voltando a ficar brava. — Por que são tão absurdos?!
— Puxei o saco de vomito preso nas costas da poltrona à minha frente e enfiei o
rosto dentro.
— Porque eu a amo! — Espiei
Emmett chacoalhar o dedo indicador na direção de Alice. — É isso mesmo! —
Desafivelou o cinto e ficou de pé. — EU. AMO. ALICE! É praticamente um
suicídio, mas EU. AMO. ALICE!
A “romântica” declaração foi
seguida pelos sons horríveis de Jasper vomitando dentro do próprio chapéu.
— Hã? Ama? — Alice ainda
conseguiu se emocionar.
— Sim. Há anos. — A raiva de Emm
sumiu, dando lugar a um misto de melancolia e ternura. — Você é a garota mais
descolada e engraçada que conheço. Achei que nunca ia me querer. — Franziu o
cenho com remorso. — Jazz e eu éramos muito babacas e covardes... — Olhou de
relance para meu irmão, o qual ameaçava vomitar de novo. — Corrigindo, eu era muito babaca e covarde. Foi
preciso um cara da selva aparecer pra abrir meus olhos. — Encarou Alice com
honestidade e carinho. — Fiquei empolgado quando Rosalie surgiu porque eu nunca
pegava ninguém, mas foi pura perda de tempo. Queria ter feito tudo diferente,
Alice. Desculpa.
— Também queria ter feito tudo
diferente, Emmett. — Ela se levantou para abraçá-lo.
Emm tomou Alice nos braços com a
intenção de beijá-la, mas então meu irmão berrou do nada:
— EU COMI A BOGDANOV!
— NÃÃÃOOO! — Gritamos
simultaneamente, temendo ser a última coisa que ouviríamos em vida.
— Falei que não lembrava, mas
lembro de tudo. E ela nem precisou forçar a barra. Foi por isso que morreu
feliz. — Meu irmão voltou a choramingar. — Não quero ir pro inferno por causa
disso. Gente, eu odeio calor.
— Como pôde? — Alice o
repreendeu, esticando o braço numa frustrada tentativa de agredi-lo.
— O que posso fazer?! — Meu irmão
também queria ficar em paz com sua consciência. — Eu sou o Jasper... —
Inconsolável, baixou a cabeça. — Tenho o dom da esquisitice.
— Não se cobre tanto, rapaz.
Quase todo mundo faz besteira na sua idade. — Para a nossa total surpresa quem
disse isso foi o comandante, de pé no início do corredor.
A voz do homem nos paralisou. A
sensação foi semelhante à de sermos flagrados cometendo indecências. Lavar
roupa suja na frente de estranhos e de uma celebridade em um jato de luxo, o
qual já nem chacoalhava mais, nos deixou com a cara lá no chão.
— Me situa. — Suando frio, sorri
amarelo para Sarah.
— Faz uns minutinhos que a
turbulência cessou. Estavam envolvidos demais em suas confissões para notar.
Foi... — Ela fitou o vazio pensando em uma palavra para descrever o momento e
não encontrou. — Alguém quer uma bebida? — Rapidamente mudou de assunto.
— Veneno com gelo, por favor. —
Murmurei, ironicamente desejando morrer.
— Em quatro copos. — Jazz
completou com a voz embargada.
(...)
De fato os pilotos nos tiraram da
zona de risco. Seguimos então para o Lagos, na Nigéria, onde aterrissamos em
uma pista alugada com antecedência.
Ficamos mais tempo em terra do
que o previsto, para fazer uma rápida revisão além de reabastecer. Horas depois
decolamos novamente, dessa vez rumo a Porto Moresby, na Papua Nova Guiné.
Passado o susto, o incidente pôde
ser mais bem digerido. As desavenças foram rapidamente esquecidas e o
constrangimento amenizado. Era evidente que a alegria por termos atravessado a
tempestade sem maiores danos revigorou o ambiente.
Alice e Emmett finalmente abriram
mão de suas teimosias, trazendo de volta equilíbrio à nossa amizade. O
disfuncional casal assumiu a culpa pelos mal-entendidos que quase arruinaram
nossa relação. E sem mais nada a esconder, expressaram suas verdadeiras
opiniões sobre o meu projeto. Estavam dispostos a batalhar nele comigo.
Jasper, contagiado pelo otimismo
dos dois, voltou atrás em sua decisão. Meu irmão se deu conta de que era mesmo
uma oportunidade única e não queria mais ficar de fora.
Aqueles minutos de incerteza
sobre a morte ampliaram nossas visões. Acredito que teria ampliado a de
qualquer um, pois esses momentos nos obrigam a repensar nossas atitudes. Para
quem estava dentro do jato, não importava se as reações tinham sido exageradas,
cômicas ou imaturas. Só pensávamos no quanto tudo foi real, no quanto o
desfecho poderia ter sido diferente. Pensei comigo várias vezes: foi por pouco.
Sentindo o círculo de confiança
entre meus amigos e eu restaurado, mudei de poltrona e me aconcheguei perto de
Jasper. Mantive minha fé de que mais nada nos assolaria e dessa forma pude relaxar.
Minutos depois, as noites mal
dormidas começaram a pesar em minhas pestanas. Apaguei completamente. Não tive
sonhos e acho que nem me mexi. Só acordei quando Jazz me cutucou, pedindo para
que eu afivelasse o cinto de segurança pra pousarmos.
Enfim, chegamos a Porto Moresby.
A pista clandestina era ainda menor que a do Lagos. Contudo, os experientes
pilotos não encontraram dificuldades para aterrissar. Ao todo, foram mais de 30
horas de viagem. Nunca pensei que demoraria tanto. O piloto Waite nos informou
o horário local, mas não me importei, só queria pôr meus pés no solo novamente.
Sem perda de tempo, fomos
direcionados para um hangar, onde a assistente de Sarah já tinha nos reservado
um transporte. Para não ofender o motorista papuásio, contemos o riso ao entrar
na Kombi assustadoramente parecida com a Monstrenga. O motor até fazia o mesmo
barulho.
O forte sol do meio-dia me
obrigou a colocar os óculos escuros, e através dele vislumbrei uma cidade
diferente da que imaginava. Porto Moresby era urbanizada, mas em alguns pontos
parecia que a vegetação intencionava engolir o concreto. As ruas estavam cheias
naquele horário e o calor era sufocante. Apesar de tudo, a cidade se mostrava
tão singular e cheia de energia que a considerei bela.
Não demorou muito para chegarmos
ao porto. Minha primeira ação foi respirar fundo, na tentativa de conter a
ansiedade que voltara com força total. Já meus amigos conseguiram manter a
crescente empolgação.
Admirando a paisagem, seguimos
Sarah até onde ela pensou que encontraria o mesmo barco que a levou à ilha anos
atrás. Como era de se esperar, Sarah não o encontrou.
Claro que ali havia muitos outros
barcos, o problema era achar quem soubesse exatamente em que parte de Malaita
devíamos atracar. Foi então que Emmett sugeriu que perguntássemos aos
pescadores. Sem outra opção, saímos numa busca às cegas.
Em todo o país são falados 850
idiomas, em grande parte línguas tribais ou provincianas, mas por causa da
influência primeiro britânica, depois australiana, o idioma oficial é o Inglês.
Claro que sentimos diferenças na pronúncia, mas não tivemos problemas na
comunicação.
Fracassamos nas três primeiras
tentativas, embora o último homem com quem falamos nos indicou um quarto homem.
Seguimos as instruções dele e encontramos o tal pescador.
Foi ótimo ouvi-lo dizer que
conhecia o cientista da ilha por, às vezes, transportar cargas que ele não
conseguia levar em sua lancha. No início, o pescador hesitou em nos conduzir
até lá. Foi aí que o apelo de uma boa oferta em dinheiro o fez mudar de idéia.
A assistente de Sarah ficou para
trás, a fim de agilizar a volta para casa. Quanto ao resto de nós, seguimos no
velho pesqueiro de médio porte para o arquipélago denominado Ilhas Salomão.
Logo na nossa primeira hora no
mar, passamos por um enjoou coletivo. Felizmente fui a única a não vomitar,
simplesmente por estar com o estômago vazio. O pessoal entornou as garrafas de
água que levamos, só que isso não ajudou muito. O pior é que a viagem ainda ia
durar mais três horas.
Sentada junto à proa, mantive os
olhos no amplo horizonte. O sol queimava impiedosamente minha pele, mas o vento
constante e os salpicos do mar amenizavam o incômodo. Nesse meio tempo, não
consegui tirar Edward da cabeça.
Ali percebi que sempre tive uma
visão deturpada do imenso mundo que nos separava. O longo trajeto fez-me
entender que eu via nossa situação através de uma janela, enquanto Edward a via
através de portões. Por muito tempo só ele conheceu a reais dificuldades.
Quando Sarah se aproximou da proa,
comecei a me questionar se ela estava voltando a Malaita só por minha causa.
Talvez houvesse um propósito oculto em seus esforços, como reencontrar o
Dr.Carlisle depois 16 anos. Bem, eu no lugar dela também não resistiria à
oportunidade.
— Bella, preciso esclarecer uma
questão com você. — Sarah retirou os óculos escuros e esfregou os olhos
cansados.
— Estou ouvindo.
— Tecnicamente não
deveríamos estar aqui. A licença de vôo que minha assistente conseguiu se
estende somente até a Nigéria. Não tínhamos permissão para pousar em Porto
Moresby.
— Eu já desconfiava. Você sabe...
Por causa pista clandestina.
— Mas não se preocupe. Por sorte,
contamos com uma lei que permite que a aeronave fique em terra por até 48h no
caso de necessidade de reparo. Sinceramente, acredito que não precisaremos
apelar para esse artifício. Meus pilotos são muito bons em passarem
despercebidos. E também Nova Guiné é um país um tanto... — Sarah procurou a
palavra certa, para não soar preconceituosa.
— Eu entendi. — Tentei poupá-la
do esforço.
— Só estou tentando dizer que é
melhor não passarmos mais do que 24h nessa região. O quanto antes voltarmos
para o espaço aéreo internacional melhor. Tudo bem pra você?
— Claro, eu compreendo. — Assenti
imediatamente. — Eu só preciso de uma hora com ele, Sarah. — Apertei sua mão
com muita gratidão. — Só uma hora.
— Têm sido uma viagem bem
atrapalhada. — Ela sorriu mesmo enjoada. — Mas acho que se tivéssemos parado
pra pensar em tudo, certamente teríamos desistido por falta de coragem.
— Concordo. — Retribuí o sorriso.
Passamos perto de algumas
pequenas ilhas, mas infelizmente Malaita ainda se escondia nas entranhas do
Pacífico. Procurando amenizar os enjôos, deitei minha cabeça no colo de Jasper,
fechei os olhos e esperei.
Ainda tivemos que percorrer várias
milhas náuticas até Sarah finalmente anunciar Malaita. Imediatamente fique de
pé e meus amigos se aproximaram, atraídos pela surpreendente visão.
Mesmo a uma considerável
distância, a ilha tropical rompia no horizonte, imponente com suas grandiosas montanhas
vulcânicas. Por alguma razão, sempre imaginei que Malaita fosse só um pedacinho
de terra no meio do oceano, no entanto, estávamos diante de algo monumental.
Tentando não rir das nossas caras
abobalhadas, Sarah comentou que a ilha tinha 171 quilômetros de comprimento e
50 de largura. Naquela hora, não tive dúvidas de que era o lugar mais
impressionante que eu já vira.
Tão logo o pesqueiro começou a se
aproximar da costa, os quilômetros de areia branca, água azul turquesa e
enormes palmeiras animaram meus amigos. Quanto a mim, já nem sentia as pernas
de tão nervosa que estava.
Os minutos se arrastaram
dolorosamente, mas a tortura acabou quando o barco atracou em um pequeno píer.
Lá só havia a lancha do Doutor, coberta por uma lona.
Desembarcamos o mais rápido
possível, desejando esquecer totalmente o mal estar provocado pelo fétido
pesqueiro. Sarah deu apenas metade do valor combinado ao pescador, para
garantir que ele retornaria para nos buscar dentro de vinte horas.
Assim que recuperamos o fôlego,
seguimos as instruções dele. Primeiro atravessamos a extensa faixa de areia,
ficando diante de um paredão de vegetação quase impenetrável. Depois,
procuramos por uma trilha, que o pescador garantiu que estava logo ali. Por
sorte, Sarah forçou a memória e encontrou a trilha. Essa não media mais do que
um metro de largura.
A umidade, os sons incomuns de
pássaros e insetos e a diversidade de plantas produziram em mim uma sensação
estranha. Certamente consciência de estar mesmo em outro mundo.
Caminhamos por cerca de quinze
minutos, sempre fazendo observações sobre o lugar. O pouco, porém útil
conhecimento de Sarah nos manteve interessados, evitando que o percurso
consumisse o resto de nossas energias.
No fim da trilha, o esforço foi
compensado ao encontrarmos uma enorme clareira. Estimei que fosse maior do que
um campo de futebol. A casa no meio dela era composta de grandes toras de
madeira envernizada, com a base em pedra e telhas de barro escuro. Uma ampla e
atrativa varanda circundava a moradia, que mais parecia uma casa de campo do
que o reduto de um cientista. O anexo do lado esquerdo era um pouco menor que a
casa, mas feito com o mesmo material. Enquanto no lado direito, quase no final
da clareira, ficava a mediana estufa agrícola.
— Já chega... Eu vou falar. —
Jasper apoiou as mãos nos joelhos, quase caindo de cansaço. — Da próxima vez,
vê se arruma um namorado menos difícil, Bella.
— E agora, a gente bate na porta?
— Alice fitou Sarah.
— Acho que não vai ser preciso. —
Ela disfarçadamente indicou o Doutor, que aparecera na entrada da casa.
O pai de Ed mostrou-se tão
surpreso que nem veio ao nosso encontro. Nessa hora imaginei que ele estivesse
pensando: meu Deus
do céu, o que
essa gente louca está fazendo aqui?
— Emmett,
me reboca. — Morrendo
de vergonha, murmurei pelo canto da boca.
Sem mais delongas, cruzamos a
clareira determinados a encontrar Edward. Emm de fato precisou me empurrar até
o primeiro degrau da varanda.
— Olá, sejam bem vindos. —
Carlisle sorriu, afinal, o que mais podia fazer?
Nós o cumprimentamos
educadamente. Em seguida, fui intimada pelos olhares a perguntar por Edward.
Lembrando-me de que tinha pouco tempo para conversar com ele, não hesitei.
— Posso falar com seu filho?
O Doutor me analisou por mais
segundos do que eu gostaria. Trocou um rápido olhar com Sarah, então respondeu
com pesar:
— Ele não está aqui. Sinto muito.
Continua na parte 3...
Caramba... Edward trabalhando
na TV em programa próprio... Bella e os amigos indo para Malaita com a ajuda de
Sarah... Todos quase morrendo num acidente e falando verdades escondidas... e pra
finalizar chegam à Ilha e não encontram Edward... É muita coisa pra um capítulo
só, então aguardem a continuação para saber o que vai acontecer em Malaita.
Beijos e até amanhã.
NNNNNNÃÃÃÃÕ VEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEI!MORRI AGR!ACHO QUE O ED NÃO QUER VER A BELLA E MANDOU O BRUCE MENTIRRRR HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH(PSICOTICA EU)
ReplyDeleteesse foi um cap mega emocionante ♥I loved♥ beijusculo ate amanha.
ReplyDeletecaracaaaaaaaaaaaaa fantastico esse cap
ReplyDeleteestao de parabens , aqui tem as melhores fanfics <3
aaaaaaaaaaaaaaaaa tadinha da belita atravesat o oceano pra falar com EDWARD GOSTOSO E NAO ENCONTRA ELE@@@@ Fl SERIO
ReplyDeleteCARAAAAAAAA ESSA FIC E TD DE BOM E +++++++++ UM POUCO!!!
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