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Friday, June 01, 2012

FANFIC - UM SELVAGEM DIFERENTE - CAPÍTULO 35


Boa tarde amores! Como ontem ainda estou na batalha pra organizar tudo no trabalho, mas vou editando da melhor forma possível. Então fiquem com mais um capítulo. Espero que curtam bastante.

Título: Um Selvagem Diferente
Autora(o): Lunah.
Shipper: Bellard
Gênero: Romance, Comédia, Universo Alternativo, Amizade, Lime
Censura: NC-18
Categorias: Saga Crepúsculo
Avisos: 
Álcool, Linguagem Imprópria, Violência

Um Selvagem Diferente
By Lunah

Atenção: Este conteúdo foi classificado 
como impróprio para menores de 18 anos.
"Estou ciente, quero continuar!"


Capítulo 35 - Encruzilhadas - Parte 2

Uma semana se passou e minha relação com meus amigos continuou estranha. Conversávamos, saíamos juntos, mas já não tínhamos a mesma dinâmica de espontaneidade e união.
Ficava me perguntando a causa dessa ruptura e as possibilidades eram muitas: culpa por não terem aceitado a parceria no projeto; saudade dos novos amigos da faculdade; frustração por cancelarem seus planos de férias para ficar comigo... Especular sempre me deixava pra baixo e isso refletia no meu modo de tratá-los.
Por volta das 15h, nos encontramos em uma lanchonete perto de casa. Alice e eu fomos ao banheiro enquanto Jazz esperava sozinho em uma mesa. Emm não ligou justificando o atraso e consideramos isso um “fora”.
— Desculpa ter passado uns meses “off line”. Acabei nunca perguntando o que rolou realmente entre você e o Emmett. — Falei enxugando as mãos com papel toalha.
— Transamos naquela noite porque estávamos bêbados. — Entediada sentou na ponta da pia. — Como ele não tocou mais no assunto também fiquei na minha.
— Como conseguem fingir que nada aconteceu? — Balancei a cabeça sem entendê-los.
— Sei lá. — Cruzou os braços com estranha indiferença.
Desconfiada estudei seu rosto por um momento.
— Alice?
— Eu. — Fitou-me toda esquisita.
— Sente alguma coisa pelo Emmett? — Estreitei os olhos sentindo que tinha “trêta naquela mutrêta”.
— Defina “coisa”. — Desconcertada, começou a arrumar o cabelo.
— “Coisa” número um: brincou de sete minutos no paraíso com ele quando tínhamos 13 anos. “Coisa” número dois: odiava acidamente Rosalie. “Coisa” número três...
— Bella, vai lamber uma tomada! — Mostrou-me o dedo do meio.
— Eu não acreditoooo! — Chacoalhei as mãos, extasiada. — Pirei quando vi vocês juntos porque achei que fosse só depravação. Mas quem diria... É amor! — Rasguei uma folha de papel ao meio e joguei para cima como se fosse confete. Sem poder me conter, comecei a provocá-la como a peste sempre fazia comigo. Caprichei na voz melosa. — Tão lindinha você. Que menina mais meiga... Bella quer apertar suas bochechinhas. — Pisquei os olhos teatralmente.
— Que desinfetante poderoso foi esse que você cheirou? — Rosnou por entre dentes. — Sabe de uma coisa? Estou deletando esse momento agora. — Apertou uma tecla imaginária. — Fui! — Lice saiu do banheiro e a acompanhei, saltitando de alegria.
Havia pouquíssimos clientes na lanchonete e eu sorri para vários, quase declarando em voz alta que “o amor é lindo”.
— Demoraram muito no banheiro. Credo, esse tipo de necessidade se faz em casa. — Jazz reclamou quando sentamos à mesa.
— Deixa de ser estúpido. — Não conseguia mais parar de sorrir. Minha amiga deslizou pelo estofado de couro fugindo de mim, mas fiquei na sua cola. — Lice tem uma coisa pra contar.
— Tenho? — Espantada, arregalou os olhos.
— Alice está apaixonada pelo Emmett. — Anunciei com a cara mais deslavada do planeta.
— Sua putenga! — Enfezada, bateu a mão na mesa com força. — Quer levar uma surra, égua do meu nojo?
— O que foi? — Exatamente como um dia ela fez comigo, fingi surpresa ao murmurar. — Era segredo?
Meu irmão nos encarava embasbacado. O coitado estranhava a súbita inversão de personalidades. E, claro, ficou enojado ao imaginar Alice e Emmett juntos. Por conta disso, ainda digerindo a idéia, balbuciou:
— Ma ei usu.
— Tu usa o quê? — Arqueei a sobrancelha sem entender.
— Que língua é essa, meu filho?! — Lice continuou soltando fumaça pelo nariz.
— Falei “não acredito” em estoniano. — Ele revirou os olhos bastante impaciente. — Vamos ser um povo mais culto, né?
— Tou com medo. — Sussurrei fitando o vazio, imaginando por que raios o estoniano voltara pras nossas vidas.
— Alguém me situa: O Emmett? Como? Quando? E o mais importante: por quê? — Jasper balançou a cabeça mais perdido que a Bogdanov no inferno.
— Tá bom. — Alice chacoalhou as mãos no ar, querendo apagar o início da conversa. — A verdade é que sempre tive uma queda picototinha pelo Emm. Ou seja, se essa história vazar, vão acordar no hospital se alimentando por uma sonda.
— Querida, você apaixonada chega a níveis diabéticos de doçura. — Ironizei adorando pegar no pé dela.
— Detalhes. — Jazz exigiu inclinando-se sobre a mesa. — O danado sabe?
— Claro que não! Somos praticamente irmãos, seria um incesto torto. — Alice esfregou o braço fingindo se arrepiar.
— Torto é esse seu cérebro, porque vocês já transaram. — Retruquei revoltada.
— Não acredito que ele desceu o sabugo em você! — Jazz esbravejou fazendo uma cena. — Por que sou sempre o último saber das coisas? — Escancarou os braços exageradamente.
Imediatamente Lice e eu afundamos no assento, escondendo nossos rostos atrás de um cardápio. Percebendo o vexame, meu ridículo irmão soltou uma risadinha nervosa e começou a se justificar com os clientes.
— O que eu disse foi no sentido literal. — Em voz alta passou a assassinar o bom senso. — Sabugo não foi uma metáfora para pinto. — Pigarreou. — Aliás, ninguém aqui está pensando em pintos.
— Fale por você, meu querido. — Alice suspirou com um sorriso.
Pela visão periférica, vi uma mãe tapando os ouvidos da filha pequena.
— Ai... Nosso bom e velho costume de lançar merda no ventilador. — Considerei a idéia de meter um saco de papel na cabeça.
Meu irmão esperou por trinta segundos a poeira baixar e voltou a falar besteira.
— Alice, quando for jogar a bomba na cabeça do Emm posso assistir? — Seus olhos cresceram com a vontade de ver o circo pegar fogo.
— Isso não vai acontecer. — Ela se recompôs empinando o nariz. — O que pensam que eu sou?
— Hipócrita. — Minha resposta categórica deixou-lhe muda. — Me fez rolar por uma ladeira de confusões até eu me acertar com Edward, mas quando o lance é com você...
— Shhhh! — Deu com o cardápio na minha cabeça. — Vocês nem sabem comer de colher e querem me ensinar a comer de garfo?! — Seu mau humor voltou com tudo.
— Perfeito. — Bufei cabisbaixa. — Mais metáforas com talheres.
— Mudemos de assunto, aí vem o Emmett. — Alice quase surtou com medo de darmos com a língua nos dentes.
— Foi mal pelo atraso, meu pneu furou. — Emm sentou ao lado de Jasper. — O que estão bebendo? — Estranhou a mesa vazia. A frase seguinte não soou sarcástica. — Estamos doentes?
— Deixa. Eu pago essa rodada. — Levantei pouco disposta.
Fui até o balcão e pedi ao atendente quatro chopes. Enquanto ele enchia as tulipas, distraí-me com um comercial de carro que passava no televisor fixado na parede, acima de sua cabeça. Após a propaganda, o telelocutor do Discovery Channel começou a anunciar a programação. Desinteressada, desviei o olhar e me foquei nos chopes que já estavam no balcão.
Com dificuldade, juntei as tulipas e as ergui, morrendo de medo de deixar tudo cair. Bem devagar, me virei e na velocidade de uma lesma comecei a me mover. Olhei para meus amigos e os encontrei encarando-me de forma estranha, com se eu fosse um fantasma. Confusa, parei e percebi que não era a mim que encaravam. Foi aí que a voz grave e encorpada do telelocutor da TV me chamou a atenção. Sem me mexer, atentamente ouvi:

...

A aventura agora tem um rosto. E um nome legal também. Acompanhe esse cara enfrentando sozinho a mãe natureza. Em qualquer lugar, e em qualquer hora. Destinos e desafios inusitados.

Virei-me vagarosamente e olhei para o televisor.
Quando eu era garoto, tudo que eu queria era viver aventuras. Acampar, me sujar de lama, subir em árvores... Só me divertir...”
Quem disse isso foi Edward. Podia até sentir o humor na sua voz ao lembrar-se dessa fase. Na tela apareceram trechos de vídeos caseiros da sua infância, nos quais ele fazia os mais diversos tipos de estripulias em Malaita. Em estado de choque, deixei os copos caírem no chão, me transformando numa estátua de cera.
“Quando se é criança, nunca se pensa nas consequências. Hoje eu penso, mas me arrisco do mesmo jeito.”
Havia uma empolgação genuína na sua entonação. De repente, ao som de Runnin' Wilddo Airbourne, Edward surgiu no vídeo.
Na edição de imagens ele aparecia descendo um rio numa balsa improvisada; chegava ao topo de uma montanha carregando um equipamento nas costas; tentava abrir caminho por uma mata fechada; sentava exausto numa duna no meio do deserto; e corria por uma planície branca, em algum lugar gélido. Eclodiam na tela títulos como: Panamá, Namíbia, Guatemala, Tanzânia e Sibéria.
O rosto que eu nunca esqueci, enfim, ficou suficientemente visível. Suas feições revigoradas delatavam o entusiasmo em conhecer tantos lugares e poder desafiar os próprios limites. A visão, junto com a voz dele, fez com que um turbilhão de sentimentos tomasse conta de mim. Em compensação, continuei estranhamente imóvel.
Quando ampliaram o close, pude ver Edward de pé, em um estúdio com o nome do programa no plano de fundo. Absolutamente lindo, usava jeans, camisa de mangas compridas cinza e por cima uma echarpe listrada. Sem dúvida, estavam usando a ótima aparência dele para atrair o público feminino para o programa que era voltado para o público masculino.
“Há circunstâncias onde só é possível sobreviver com os conhecimentos certos e algumas habilidades. Eu sou Edward Cullen e os levarei aos lugares mais inóspitos e incríveis do planeta."
Acompanhado da narração, apareceu em letras grandes na tela:
Algum lugar no mapa entre o perigo e a diversão: INSTINTO RADICAL. Estréia sábado, às 21:00h. Só no Discovery Channel.

...

Meus amigos me rodearam num piscar de olhos. Desnorteada como nunca, passei a gesticular freneticamente, sem conseguir respirar, muito menos falar. Parecia que meu coração tinha entalado na garganta e meus membros recebidos uma forte descarga elétrica. Entrei em parafuso!
— Eu sei! Eu sei! — Alice me abanou com as mãos. — Extravase, pode ser que ajude.
Sem alternativa, foi isso que fiz:
— AAAAAAAAAHHHHHHHHH! MEU CRISTINHO SERENO! — Definitivamente não conhecia a potência da minha própria garganta. — O QUE ESTÁ ACONTECENDO? — Despejei o desespero em cima da infeliz, chacoalhando-lhe pelos ombros magrinhos. Até me esqueci que estava em público.
— Agora deu. T-zed no Discovery é mais chocante que Lice apaixonada por Emm. — Jazz murmurou sem pensar.
— Como? — Emmett inclinou a cabeça de queixo caído.
Por um momento ninguém se mexeu ou falou. Porém minha atordoada amiga alcançou vários tons de vermelho-morte enquanto seu lábio inferior tremia.
— Extravase. — Com pena dela sugeri seu próprio conselho.
Alice não perdeu tempo:
— AAAAAAAAAAAHHHHHHHHH! — Porém esse grito estridente veio de Jasper, que levou um chute num lugar bem inapropriado e que não fará falta nenhuma pra humanidade.
O coitado desabou para o lado feito um tronco velho.

(...)

— Como? Como assim? Não entendo! Como? — Fiquei repetindo, andando de um lado para o outro na sala de casa.
— Fica fria. Vou achar alguma coisa. — Meu irmão falou fino, com uma bolsa de gelo no local machucado. Ele estava acessando de seu novo notebook o portal do Discovery Channel.
Nós entramos em uma caçada atrapalhada por qualquer informação sobre o paradeiro de Edward. Levantamos algumas hipóteses, mas nada explicava satisfatoriamente o que vimos na TV.
— Achei! — Minha amiga ergueu uma conta de telefone. Foi ela quem teve a idéia de procurar na pasta de contas do meu pai a conta do mês em que o resort funcionou. Segundo Alice, Edward ligou para Sarah uma ou duas vezes. — Até que foi fácil. Só tem um número de celular com o DDD de Los Angeles aqui.
— Ótimo. — Corri e arranquei a conta de sua mão. Imediatamente peguei o telefone sem fio e comecei a discar os primeiros números.
— Espera. — Emmett me tomou o aparelho. — Respira e pensa. Ed deve ter passado muitas semanas gravando o tal programa, então por que não te procurou?
Engoli em seco, incomodada com os olhares analistas e protetores.
— Eu não sei. — Respondi baixo. — Mas vou ficar louca se não descobrir. — Estendi a mão, exigindo o telefone. — Por favor. — A contragosto, Emm cedeu. Nervosa, voltei a discar os números. Depois do terceiro toque alguém atendeu. — Sarah Ryan? Aqui é Bella Swan.
— Olá, Bella! Como vai você? — Sua voz era de puro contentamento.
— Estou bem, acho... — Tomei fôlego e fui direto ao ponto, sem me importar com o que ela pensaria. — Edward está com você?
O silêncio no outro lado da linha deixou-me intrigada.
— Não. Por que estaria?
— Não? — Confusa, fitei o pessoal. Alice não suportou a curiosidade, foi até a base do telefone e o colocou no viva-voz. — Vimos seu filho na televisão. Ao que tudo indica, ele tem um programa no Discovery Channel.
— Está falando sério? — Espantou-se mais do que esperávamos.
— Estou. Tem qualquer notícia dele?
— A última vez que o vi foi na sua casa. — Fez uma pausa pra pensar. — Ele está no país?
— Não faço idéia. — Suspirei frustradíssima.
— Vocês não vão acreditar! — Jasper exclamou de olho na tela do notebook.
— O que foi? — Sarah conseguiu ouvi-lo.
— Adivinhem quem é o diretor e produtor do Instinto Radical?! — Ele gargalhou. — Bruce Jones.
— O pai do Toby? — Espantados, Emmett e Alice perguntaram ao mesmo tempo.
Fiquei muda por segundos, presa à idéia de que aquilo era impossível.
— Bem, isso explica alguma coisa, mas não esclarece tudo. — Alice ressaltou.
— Talvez Edward esteja com esse senhor. — Pude notar que Sarah ficou interessada em encontrá-lo.
— Mas como o acharemos? — Com a cabeça latejando, se tornou ainda mais difícil pensar.
— Não se preocupe, Bella. Darei um jeito. Entrarei em contato com minha assistente e te ligo de volta em breve. — Minha ex-sogra mostrou muita boa vontade.
— Obrigada. — Esperei ela desligar.
— Então é isso? Vamos sentar e esperar? — Lice se jogou no sofá, perto de Jasper.
— Parece que sim. — Impaciente, gemi esfregando a testa.
— Bella, aqui tem o vídeo promocional do Instinto Radical. Quer assistir, tipo, umas mil vezes? — Jazz debochou erguendo o notebook.
— Ai... — Bufei cansada. — Me dá isso. — Fui até ele e tomei o computador. Enquanto sentava na poltrona mais larga, voltaram a me encher o saco.
— Vai mesmo ver isso mil vezes? — Emm começou.
— Não seja estúpido! Dããã... Não sou nenhuma mongó obcecada. — Pra dar ênfase, forcei a voz para sair arrastada como de doente mental. Depois, afastei as mechas de cabelo do rosto só pra disfarçadamente beijar a imagem de Ed na tela.
— Mentalmente saudável você, hein?! — Lice zombou com um sorriso de orelha a orelha.
— Quer saber, chupa meu cotovelo! — Rebati erguendo o cotovelo. — Sua hipócrita. — Revirei os olhos.
— Falando em hipocrisia... Alice, por que nunca me contou sobre sua “despencada” por mim? — Emmett cruzou os braços bastante convencido. O estranho é que você nunca foi assim.
— Eu já disse um milhão de vezes que é mentira desse tripão da boca arregaçada! — Ela esbravejou jogando uma almofada no meu irmão.
— Se eu fingir que sou esse sofá vocês me ignoram? — Jazz implorou ainda com dor nas particularidades.
— Isso tudo é por conta dos amassos que te dei quando tínhamos 13 anos? Hmmm... — Impressionado, Emm coçou o queixo, refletindo. — Cara, eu era tão jovem e já tinha o dom.
— Pelo amor de Deus! — Ela já estava a ponto de explodir. — Tu nem é meu tipo!
— Mas eu sou o tipo de todo mundo. — O cara afirmou com uma patética arrogância.
— Prove. — Enraivecida, Lice foi curta e grossa.
Emmett não hesitou. Encarou-me arqueando a sobrancelha esquerda enquanto fazia sua melhor cara sexy.
— Rola? — Piscou o olho sensualmente.
— Gostoso. — Lancei-lhe um beijo de apoio.
O convencido voltou a encarar Alice, apontando pra mim como se eu fosse seu selo de garantia.
— Tá bom ou quer mais, malandra? Infelizmente até os marmanjos me querem. Dá uma olhada. — Voltou-se para Jasper. — Rola? — Piscou o olho outra vez.
Meu irmão fechou a cara, inflando as narinas de raiva.
— Eu tou contundido, não confundido. Sai pra lá, mano véi, esse corpinho aqui... — Passou as mãos pelo peito. — Você nunca terá!
Pois é, ele não quis colaborar.
— Santa paciência, Lice. Confessa logo. — Coloquei pressão.
Ela se levantou e transtornada desatou a falar:
— Leiam meus lábios. — Apontou para eles. — Vocês são todos loucos! Isso aqui é um manicômio e eu vou escapar daqui rapidinho. Nunca mais nem vou olhar pra suas caras feias, pálidas e remeladas.
Em silêncio a estudamos por quase meio minuto. Dando-se por satisfeito, Emmett anunciou com muita simplicidade:
— Que coisa... Ela me ama. — Boiando na própria reflexão, ficou cutucando o dente com a língua.
Jasper eu apenas maneamos a cabeça em concordância.
O chilique de minha amiga a delatou. Era evidente que se zangava facilmente por ter vergonha dos próprios sentimentos. Revoltada com nossa reação, estrebuchou rosnando feito um cão raivoso. Por sorte, antes que pudesse nos matar com sua cólera radioativa, o telefone tocou e corri para atender.
Para descontrair o ambiente, coloquei no viva-voz.
— Alô?
— Oi, Bella. Consegui falar com Jones. — Sarah disse calmamente.
— Edward está com ele? — Foi impossível reprimir a curiosidade.
— Não.
— Não? — Precisei de um segundo pra administrar a decepção. Sentei no braço do sofá e respirei com dificuldade pela boca.
— Escuta, a ligação estava ruim, mas obtive algumas respostas.
— Estou ouvindo. — Balbuciei.
— Jones tem uma pequena produtora. Já fazia algum tempo que trabalhava no projeto Instinto Radical. O problema é que ele não tinha recursos para avançar. Claro que não perguntei, mas subentendi que estava meio falido. Ele partilhou suas idéias com Edward quando eles estavam aí, mas o assunto morreu por um tempo. Segundo Jones, foi o próprio Edward quem o procurou há cerca de quatro meses atrás, se oferecendo para ser o produtor executivo. — Troquei um olhar de incredulidade com meus amigos. — Depois de negociarem algumas mudanças no formato do programa, gravaram cinco episódios. Jones ofereceu os episódios à rede do National Geographic, mas foi o Discovery quem comprou os direitos de exibição.
— Chega a ser difícil acreditar. — Confessei tentando compactar as informações. — Então Edward está agora em algum lugar do mundo gravando esse tal programa?
— Não.
— Me perdi de novo. — Emm resmungou no meu lugar.
— Jones disse que já faz vários dias que ele voltou pra Malaita.
— O quê? — Levantei rápido demais e tive vertigem. — Como é? Ele não pode ter ido! — Voltei a sentar porque o mal estar não estava passando.
— Espera aí. — Alice se aproximou intervindo. — Está dizendo que Ed gravou os episódios e depois simplesmente foi embora?
— É o que parece. E Jones nem sabe por que.
Todos se calaram por não compreenderem a decisão de Edward.
— Ah, não. Isso não está acontecendo. — Com lentidão comecei a encaixar os acontecimentos. — Era mesmo ele na estação de trem. — Minha voz soou um pouco mais alta que um sussurrou. — Era ele. — Tanto que rejeitei a verdade. — Era Edward.
— Estação de trem? — Sarah ficou confusa.
Alice vendo que eu estava imersa na conclusão, se dispôs a explicar:
— Semana passada Bella foi se despedir de um amigo e Ed os viu abraçados. Ela ainda correu atrás dele, mas o cara entrou no trem e se mandou. Nós pensamos que a coitada estava vendo coisas.
— Que situação estúpida. — Jasper se colocou de pé. — E daí que Bel estava abraçando outro homem? Desde quando isso é atestado de namoro?
— Por favor, entendam que Edward tem um jeito diferente de pensar. Talvez... — Sarah não soube como argumentar.
— Com todo respeito senhora Ryan. — Emm se aproximou do telefone. — Mas Jazz tem razão. Além disso, Ed teve quatro meses pra procurar Bella. Qual a dele afinal?
— Parem. — Implorei erguendo a mão.
Ouvir os questionamentos me magoava, pois a única resposta lógica seria de que ele não se importava tanto comigo quanto acreditei. Mas aí essa idéia entrava em conflito com meus conhecimentos sobre os sentimentos mais íntimos dele. Aqueles que desvendei através do diário.
— Bella, me desculpe por insistir. — Sarah aumentou um pouco o tom de voz. — Mas preciso te lembrar que vocês não prometeram fidelidade eterna. O acordo foi que seguiriam suas vidas. É possível que Edward tenha te visto feliz e achou que não tinha o direito de interferir.
— Eu... Eu não sei. — As palavras de Sarah pesaram na balança. — Não consigo imaginar um Edward que não lutaria pelo que quer. — Angustiada, resolvi revelar o que martelava na minha cabeça. — Mas pode ser que ele tenha mudado.
— Mudado? Fala sério, está exagerando. — Alice quase riu de mim.
— Minha experiência diz que as pessoas podem mudar em pouco tempo. — O ressentimento me impediu de segurar a língua. — Olha só pra vocês, são meus melhores amigos e quase não os reconheço. Tenho que aceitar que o mesmo pode ter acontecido com Edward.
Parecendo ofendida, Alice ergueu as mãos, desistindo da conversa e se afastou. Imediatamente me arrependi do que falei e quase engasguei com o remorso.
— Chega de rodeios. A questão é que Ed foi embora. O que se pode fazer agora? — Jazz lançou sobre nós a dura verdade.
Exausta, apoiei os cotovelos nos joelhos, deixando os cabelos cobrirem meu rosto. Por vários e vários segundos nada ouvi, tampouco falei. Meu coração voltou a ser torturado pelo sentimento de perda, que se renovou devido às circunstâncias.
— Bella? — A voz de Sarah rompeu o silêncio.
— Sim? — Ergui a cabeça para ouvi-la.
— Só há um jeito de esclarecer toda essa confusão. Mas você precisa realmente,realmente querer.
— Que jeito?
— Eu tenho um jato e sei como chegar a Malaita. — Seu tom não era de brincadeira. — O que me diz, quer ir lá e confrontar Edward?
Eu não estava preparada para a proposta. Na hora só consegui pensar na frieza com que ele me tratou; na falta de consideração em não me avisar que estava no país; no jeito que me deu as costas... Não havia justificativas que amenizassem essas atitudes. Ainda que não me quisesse como namorada, nossa amizade era sólida e especial. Ao menos costumava ser...
Tive que lidar com as expectativas quase palpáveis de todos. Ninguém ousou interferir, mas notei que torciam por um “sim”. Tentando não me deixar influenciar, lembrei-me apenas de um trecho do diário que se referia ao dia em que quase morremos ao saltarmos do penhasco.
“‘Atados’ é uma boa palavra para definir nossa situação, pois agora tenho uma dívida de gratidão com Bella e farei até o impossível para honrá-la... Mesmo que os anos passem, e que a lembrança do que aconteceu evapore de sua memória, se Bella precisar de mim, eu retornarei a essa terra por ela.”
Edward esteve no meu mundo por tempo suficiente para conhecer a maldade, o preconceito e a injustiça. Não podia descartar a hipótese do incidente com Brad tê-lo transformado. Entretanto, valia à pena atravessar o mundo pelo homem do diário, pelo amigo que me ajudou no passado. Mas, principalmente, pelo selvagem por quem me apaixonei. Eu merecia a verdade, seja ela qual fosse.
— Eu vou, Sarah. — Anunciei convicta.
O ambiente mudou da água pro vinho. Da apreensão para o entusiasmo contido.
— Ótimo. — Ela não conseguiu esconder o repentino bom humor. — Mas preciso de pelo menos 48h para planejar a viagem.
— Com licença. Não é querendo ser uma pentelha-metida-de-uma-figa... — Alice chegou junto da mesa do telefone. — Mas já sendo uma pentelha-metida-de-uma-figa, tem como irmos também? Sabe, pra darmos um apoio moral à Bella.
Não sei como ainda fico chocada com a falta de “simancol” dela.
— Tudo bem, o jato tem poltronas suficientes. — Sarah devia ser canonizada!
Imediatamente os rapazes comemoram erguendo os punhos fechados. Edward tinha falado muito sobre Malaita e o pessoal não queria perder a chance de conhecer... Mesmo que isso significasse me matar de vergonha.
— Muito obrigada, Sarah. — Tinha a impressão de que iria passar o vôo todo repetindo isso.
— De nada. Daqui a pouco ligo pra pegar o número do passaporte de vocês, mas antes irei pedir um plano de vôo aos meus pilotos. Até mais.
Logo que ela desligou, meus amigos saíram pulando de empolgação.
— Inacreditável! — Emm mordeu as mãos, em ato esquisito de contentamento. — Vamos pra Malaita, hôhô-hôhoooo. — Cantarolou dançando o hula-hula, crente de que lá era igual ao Havaí.
— Senhoras e senhores: a liga dos vadios se prepara para decolar. — Jasper enfiou o chapéu na cabeça, se achando o Indiana Jones.
— E que ninguém morra... — Murmurei pelo canto da boca. — De vergonha.

(...)

Sarah cumpriu a palavra. Na tarde de quarta-feira, pegamos nossas mochilas e a encontramos em um hangar alugado no aeroporto executivo perto de Azalea Park.
Ela explicou que a rota de viagem mais prática seria cruzando o México e fazendo uma escala no Havaí. Depois sobrevoando a Micronésia até chegar a Papua Nova Guiné. Mas como havia alerta de tufões no Oceano Pacífico, bem nas proximidades das ilhas havaianas, isso não ia ser possível. Então nosso plano de vôo era cruzar o Atlântico e fazer a escala na Nigéria.
Paris foi o lugar mais longe de casa em que já estive. E olha que foi só uma excursão escolar com a turma do curso de francês. Por esse motivo e outros, só acreditei que estava indo para Malaita quando a aeronave decolou.
Acomodados nas largas poltronas de couro bege, estavam meus amigos, a mãe de Edward e sua assistente pessoal. Além de banheiros, o jato executivo também possuía uma prática cozinha, bar completo e uma pequena sala de estar. Tudo requintado o bastante para me fazer enxergar quão abastada era a Sra. Ryan.
As primeiras nove horas de vôo foram tranquilas. Sarah cochilou, Alice e a assistente conversaram e os rapazes ficaram assistindo filmes. Quanto a mim, fiquei praticamente imóvel na poltrona. Não tirei os olhos da janela, observando o dia ir embora lentamente. O único momento em que interagi com os demais foi quando ajudei a servir o jantar.
Durante a madrugada, enquanto sobrevoávamos o Oceano Atlântico rumo à Nigéria decidi me desculpar com meus amigos. Aproveitei que Sarah foi à cabine dos pilotos e me dirigi até a salinha onde jogavam cartas.
— Preciso dizer uma coisa. — Sentei em uma das cadeiras ovais. Ninguém se manifestou, pelo contrário, continuaram a jogar como se eu não estivesse ali. Sem me deixar levar por isso, prossegui para aliviar a pressão no peito. — Desculpem pelo que falei na segunda-feira. Vocês sabem... Sobre aquele lance de terem mudado.
Tínhamos evitado o assunto por um tempo, mas ao abordá-lo, os deixei introspectivos.
— Só não é justo ficar magoada por não querermos tocar a pousada com você. — Jasper se pronunciou primeiro, me repreendendo como irmão.
— Eu sei. — Admiti cabisbaixa. — Só preciso de mais um tempinho pra me acostumar com a situação.
— Podemos ter mudado um pouco, mas você também mudou. — Alice alfinetou sem me olhar. — Tem sido estúpida comigo, por isso não quero conversar agora. — Se referiu ao meu erro de ter contato sobre sua paixão platônica a Jazz.
— Não acredito. O que deu em você? — Sorri sem humor para engolir a afronta. — Quantas vezes me meteu em situações embaraçosas ou falou barbaridades? Te desprezei por isso? Acho que não.
— Qual é?! Tudo que faço é pra te ajudar. Deixa de ser ingrata. — Ela se indignou sem motivo.
— Mas não estou sendo! Alice, repito mil vezes se for preciso, está bancando a hipócrita. Que merda, não dá pra aguentar isso! — Passei as mãos pelos cabelos, muitíssimo inconformada.
— De certa forma, Bella tem razão. — Emmett tomou partido.
— Cala a boca que não quero ouvir a sua voz moribunda. — Lice ainda estava irritada por ele brincar com os sentimentos que ela mesma se recusava a confessar.
— Você é quem devia se calar. Ou pelo menos ser mais corajosa e aceitar quem é. E inclua no pacote seus sentimentos estranhos e tudo mais. — Emm odiou a forma como foi tratado.
— Show, então vai ser assim agora? — Jasper se levantou e desembuchou estranhamente alterado. — Vamos discutir por qualquer droga? O sujo falando do mal lavado? Inacreditável! Está todo mundo sendo idiota. Bella ficou egoísta, Alice hipócrita e Emmett se transformou num verdadeiro mentiroso.
— Mentiroso? — Emm também ficou de pé, cobrando o que nem entendia. — Do que está falando?
— Sei que seu pneu não furou naquele dia. — Meu irmão acusou convicto. — Falou pra Alice ser corajosa, mas é você quem devia tomar coragem e confessar que não queria se encontrar com a gente. — Sarcástico, peitou Emmett como nunca o vi fazer. — Aliás, aproveita e diz também que só ficou em Orlando porque Bella não parou de choramingar.
— Isso é verdade? — Perplexa, encarei Emmett, que por sua vez desviou o olhar, se recusando a responder. — Meu Deus. — Decepcionada me ergui lentamente. — Não quero que fiquem comigo por pena. Acho que mereço mais do que isso. De qualquer forma, garanto que não me ouvirão mais choramingar.
— Típico! — Alice se colocou na minha frente e passou a destilar palavras tão corrosivas quanto ácido. — Está levando tudo pro lado pessoal, Bella. Sempre leva. Seguimos caminhos diferentes, isso ia acontecer de qualquer jeito. Estava previsto! Mas apesar de gostarmos de você, só consegue pensar que te rejeitamos. E digo mais, tem uma verdadeira paranóia com isso.
Não consegui protestar por ficar absolutamente boquiaberta.
— Ah, vai se danar, Alice! — Jazz praguejou. — Você também está levando tudo para o lado pessoal desde que colocou os pés na Flórida. Bella tem razão, está se afogando em hipocrisia.
— Como é?! Dane-se você e esse suspensório horroroso! — Ela lhe mostrou o dedo do meio. — E já que é pra encarar a verdade, saiba que seu novo visual é cadavérico! Parece o meu tio-avô Agudim. — Enraivecida bateu o pé no chão. — E o coitado nem é tão esclerosado quanto você!
— Que foda... Essas são as piores férias da minha vida. — Emmett jogou na nossa cara rispidamente. — Não vejo a hora de voltar pra faculdade e me livrar dessa babaquice. “Esses” definitivamente não somos nós.
— Pra mim chega. — Ergui as mãos desistindo da discussão, porém perdi o controle das palavras. — Fiz de tudo pra ficarmos juntos. Dei tudo de mim na merda do projeto e só me provaram que não dão à mínima. Quando voltarmos pra Orlando, por favor, cada um que siga seu maldito rumo.
Fervendo por dentro, voltei quase correndo para a poltrona. Encolhi-me nela e me cobri inteira com o cobertor. Não sabia se Sarah tinha ouvido nossa discussão, mas se ouviu, preferiu não interferir.
Parecia que o dia não ia amanhecer nunca. Os ponteiros do relógio se moviam, mas lá fora a densa escuridão afugentava a luz. Dentro da cabine havia um outro tipo de escuridão alimentada pelo silêncio, mágoa e pesados julgamentos.
Perguntava-me quando os conflitos iam acabar. Sentia-me como um vaso velho que foi muitas vezes quebrado e consertado. Pedaços se soltavam com frequência e era preciso colar de novo, de novo... E de novo.
O cansaço foi deixando meu corpo mole. A dor de cabeça me obrigou a manter os olhos fechados e tapei os ouvidos para abafar o som das turbinas. Então quando o sono ameaçou chegar, um forte solavanco me deixou alerta. Foi estranho, pois até aquele momento quase não houve turbulência. Olhei para o corredor e não ouvi comentários. Procurei relaxar, mas segundos depois a cabine voltou a chacoalhar e dessa vez mais forte. Quase no mesmo instante ouvimos o piloto pelos alto-falantes.
— Aqui é o Comandante Waite, lamento informá-los de que teremos que atravessar um trecho de tempestade com fortes turbulências. Por favor, coloquem os cintos de segurança. Faremos o possível para sair dessa zona o quanto antes.
Nervosa, rapidamente afivelei o cinto e baixei a cortina da janela, não querendo mais olhar através dela. Com a pulsação disparando, ouvi a louça que estava na sala ali perto espatifar no chão. O tremor continuou nos sacudindo e espalhando tensão pela cabine.
— Acho que vou vomitar. — Alice avisou, retraída na poltrona atrás da minha.
Tomando fôlego, voltei-me para Sarah, que estava do outro lado do jato.
— Sarah... Sarah me responda. — Precisei chamá-la mais de uma vez, pois mantinha os olhos fechados. Nessa hora lutei para me fazer ouvir, porque minha voz tremia devido a forte turbulência. — Nossa situação é pior do que o piloto diz ser, não é? — Indaguei assim que tive sua atenção.
— É claro que é, Bella! Acorda! — Emmett vociferou descontrolado. — Acha que ele vai dizer: enfrentaremos uma tempestade no meio do oceano, se preparem pra morrer?!
Por um segundo achei que era exagero dele, mas aí notei que Sarah não o corrigiu. Ela tinha experiência de vôo, conhecia os pilotos e ainda assim não conseguia falar, somente cravava as unhas nos braços da poltrona.
Completamente aterrorizada, me recostei no acento e imediatamente pensei no meu pai. Conforme sentia a instabilidade do avião, a ânsia de vomito crescia e meus músculos enrijeceram. Assim como Sarah, também me agarrei aos braços da poltrona. A impotência e o pavor tomaram conta de mim de tal forma, que parecia que meu coração ia explodir dentro do peito. Pisquei os olhos com força algumas vezes até conseguir elevar a voz.
— Só quero que saibam... — Arfei com a visão embaçada. — que, aconteça o que acontecer..., amo muito todos vocês.
— Ah, meu Deus, vamos morrer! — Jasper tomou minha declaração como uma despedida, desencadeando um novo nível de histeria.
Mesmo incapacitada, quis acalmar os ânimos. O problema é que minha língua travou quando considerei as palavras de meu irmão.
— EU ADMITO! ADMITO! — Alice berrou. Olhei para trás e a vi com as mãos no peito. — Sempre fui apaixonada pelo Emmett. — Começou a chorar de desespero e culpa. — Sempre! Não vou morrer com isso entalado na garganta.
— Quando planejava me contar? — Ele gritou de volta, bastante transtornado. — No meu leito de morte? Então se dê por satisfeita!
— Sou tão hipócrita... — Lice assumiu em prantos.
— EU PAREÇO UM TIO-AVÔ! — Impelido pelas confissões dela, o coitado do Jasper entrou em parafuso e se entregou às lágrimas. — Não é justo, eu pareço um tio-avô... — Ficou repetindo desnecessariamente. — Um tio-avô!
— Me desculpa, Bella. — Alice estendeu a mão e não consegui tocar nem na ponta de seus dedos, pois o tremor e o meu cinto de segurança impediam o contado.
— AAAAAAHHHHHHHH! — Jasper continuou preso na sua bolha de terror.
— Queria mais do que tudo te ajudar na pousada. É o nosso sonho, mas me acovardei. — A coitada parecia de fato arrependida. — Depois que dormi com Emm tudo ficou estranho. Tive medo de que descobrissem o que sinto. Eu já não conseguia ser a mesma perto dele, então achei melhor ir me afastando aos poucos.
— Está tudo bem, minha amiga. — Me obriguei a sorrir para tranquilizá-la. —Nada do que foi dito ou feito antes importa. Vamos esquecer tudo.
— Não acredito! Não acredito! — Emmett voltou a se indignar com ela. — Não vê que me obrigou a fazer o mesmo? — O encaramos sem ação, enquanto ele balbuciava incompreensíveis palavrões. — Pensei que eu tinha estragado nossa amizade ao te agarrar. Como não dava pra consertar as coisas, decidi me distanciar até que ninguém mais lembrasse do que aconteceu na noite da despedida do resort. Tem idéia do quanto foi difícil eu dizer não ao projeto da Bella? Você é demente, Alice. Demente!
— Essas são as causas da nossa droga de situação? — Vociferei voltando a ficar brava. — Por que são tão absurdos?! — Puxei o saco de vomito preso nas costas da poltrona à minha frente e enfiei o rosto dentro.
— Porque eu a amo! — Espiei Emmett chacoalhar o dedo indicador na direção de Alice. — É isso mesmo! — Desafivelou o cinto e ficou de pé. — EU. AMO. ALICE! É praticamente um suicídio, mas EU. AMO. ALICE!
A “romântica” declaração foi seguida pelos sons horríveis de Jasper vomitando dentro do próprio chapéu.
— Hã? Ama? — Alice ainda conseguiu se emocionar.
— Sim. Há anos. — A raiva de Emm sumiu, dando lugar a um misto de melancolia e ternura. — Você é a garota mais descolada e engraçada que conheço. Achei que nunca ia me querer. — Franziu o cenho com remorso. — Jazz e eu éramos muito babacas e covardes... — Olhou de relance para meu irmão, o qual ameaçava vomitar de novo. — Corrigindo, eu era muito babaca e covarde. Foi preciso um cara da selva aparecer pra abrir meus olhos. — Encarou Alice com honestidade e carinho. — Fiquei empolgado quando Rosalie surgiu porque eu nunca pegava ninguém, mas foi pura perda de tempo. Queria ter feito tudo diferente, Alice. Desculpa.
— Também queria ter feito tudo diferente, Emmett. — Ela se levantou para abraçá-lo.
Emm tomou Alice nos braços com a intenção de beijá-la, mas então meu irmão berrou do nada:
— EU COMI A BOGDANOV!
— NÃÃÃOOO! — Gritamos simultaneamente, temendo ser a última coisa que ouviríamos em vida.
— Falei que não lembrava, mas lembro de tudo. E ela nem precisou forçar a barra. Foi por isso que morreu feliz. — Meu irmão voltou a choramingar. — Não quero ir pro inferno por causa disso. Gente, eu odeio calor.
— Como pôde? — Alice o repreendeu, esticando o braço numa frustrada tentativa de agredi-lo.
— O que posso fazer?! — Meu irmão também queria ficar em paz com sua consciência. — Eu sou o Jasper... — Inconsolável, baixou a cabeça. — Tenho o dom da esquisitice.
— Não se cobre tanto, rapaz. Quase todo mundo faz besteira na sua idade. — Para a nossa total surpresa quem disse isso foi o comandante, de pé no início do corredor.
A voz do homem nos paralisou. A sensação foi semelhante à de sermos flagrados cometendo indecências. Lavar roupa suja na frente de estranhos e de uma celebridade em um jato de luxo, o qual já nem chacoalhava mais, nos deixou com a cara lá no chão.
— Me situa. — Suando frio, sorri amarelo para Sarah.
— Faz uns minutinhos que a turbulência cessou. Estavam envolvidos demais em suas confissões para notar. Foi... — Ela fitou o vazio pensando em uma palavra para descrever o momento e não encontrou. — Alguém quer uma bebida? — Rapidamente mudou de assunto.
— Veneno com gelo, por favor. — Murmurei, ironicamente desejando morrer.
— Em quatro copos. — Jazz completou com a voz embargada.

(...)

De fato os pilotos nos tiraram da zona de risco. Seguimos então para o Lagos, na Nigéria, onde aterrissamos em uma pista alugada com antecedência.
Ficamos mais tempo em terra do que o previsto, para fazer uma rápida revisão além de reabastecer. Horas depois decolamos novamente, dessa vez rumo a Porto Moresby, na Papua Nova Guiné.
Passado o susto, o incidente pôde ser mais bem digerido. As desavenças foram rapidamente esquecidas e o constrangimento amenizado. Era evidente que a alegria por termos atravessado a tempestade sem maiores danos revigorou o ambiente.
Alice e Emmett finalmente abriram mão de suas teimosias, trazendo de volta equilíbrio à nossa amizade. O disfuncional casal assumiu a culpa pelos mal-entendidos que quase arruinaram nossa relação. E sem mais nada a esconder, expressaram suas verdadeiras opiniões sobre o meu projeto. Estavam dispostos a batalhar nele comigo.
Jasper, contagiado pelo otimismo dos dois, voltou atrás em sua decisão. Meu irmão se deu conta de que era mesmo uma oportunidade única e não queria mais ficar de fora.
Aqueles minutos de incerteza sobre a morte ampliaram nossas visões. Acredito que teria ampliado a de qualquer um, pois esses momentos nos obrigam a repensar nossas atitudes. Para quem estava dentro do jato, não importava se as reações tinham sido exageradas, cômicas ou imaturas. Só pensávamos no quanto tudo foi real, no quanto o desfecho poderia ter sido diferente. Pensei comigo várias vezes: foi por pouco.
Sentindo o círculo de confiança entre meus amigos e eu restaurado, mudei de poltrona e me aconcheguei perto de Jasper. Mantive minha fé de que mais nada nos assolaria e dessa forma pude relaxar.
Minutos depois, as noites mal dormidas começaram a pesar em minhas pestanas. Apaguei completamente. Não tive sonhos e acho que nem me mexi. Só acordei quando Jazz me cutucou, pedindo para que eu afivelasse o cinto de segurança pra pousarmos.
Enfim, chegamos a Porto Moresby. A pista clandestina era ainda menor que a do Lagos. Contudo, os experientes pilotos não encontraram dificuldades para aterrissar. Ao todo, foram mais de 30 horas de viagem. Nunca pensei que demoraria tanto. O piloto Waite nos informou o horário local, mas não me importei, só queria pôr meus pés no solo novamente.
Sem perda de tempo, fomos direcionados para um hangar, onde a assistente de Sarah já tinha nos reservado um transporte. Para não ofender o motorista papuásio, contemos o riso ao entrar na Kombi assustadoramente parecida com a Monstrenga. O motor até fazia o mesmo barulho.
O forte sol do meio-dia me obrigou a colocar os óculos escuros, e através dele vislumbrei uma cidade diferente da que imaginava. Porto Moresby era urbanizada, mas em alguns pontos parecia que a vegetação intencionava engolir o concreto. As ruas estavam cheias naquele horário e o calor era sufocante. Apesar de tudo, a cidade se mostrava tão singular e cheia de energia que a considerei bela.
Não demorou muito para chegarmos ao porto. Minha primeira ação foi respirar fundo, na tentativa de conter a ansiedade que voltara com força total. Já meus amigos conseguiram manter a crescente empolgação.
Admirando a paisagem, seguimos Sarah até onde ela pensou que encontraria o mesmo barco que a levou à ilha anos atrás. Como era de se esperar, Sarah não o encontrou.
Claro que ali havia muitos outros barcos, o problema era achar quem soubesse exatamente em que parte de Malaita devíamos atracar. Foi então que Emmett sugeriu que perguntássemos aos pescadores. Sem outra opção, saímos numa busca às cegas.
Em todo o país são falados 850 idiomas, em grande parte línguas tribais ou provincianas, mas por causa da influência primeiro britânica, depois australiana, o idioma oficial é o Inglês. Claro que sentimos diferenças na pronúncia, mas não tivemos problemas na comunicação.
Fracassamos nas três primeiras tentativas, embora o último homem com quem falamos nos indicou um quarto homem. Seguimos as instruções dele e encontramos o tal pescador.
Foi ótimo ouvi-lo dizer que conhecia o cientista da ilha por, às vezes, transportar cargas que ele não conseguia levar em sua lancha. No início, o pescador hesitou em nos conduzir até lá. Foi aí que o apelo de uma boa oferta em dinheiro o fez mudar de idéia.
A assistente de Sarah ficou para trás, a fim de agilizar a volta para casa. Quanto ao resto de nós, seguimos no velho pesqueiro de médio porte para o arquipélago denominado Ilhas Salomão.
Logo na nossa primeira hora no mar, passamos por um enjoou coletivo. Felizmente fui a única a não vomitar, simplesmente por estar com o estômago vazio. O pessoal entornou as garrafas de água que levamos, só que isso não ajudou muito. O pior é que a viagem ainda ia durar mais três horas.
Sentada junto à proa, mantive os olhos no amplo horizonte. O sol queimava impiedosamente minha pele, mas o vento constante e os salpicos do mar amenizavam o incômodo. Nesse meio tempo, não consegui tirar Edward da cabeça.
Ali percebi que sempre tive uma visão deturpada do imenso mundo que nos separava. O longo trajeto fez-me entender que eu via nossa situação através de uma janela, enquanto Edward a via através de portões. Por muito tempo só ele conheceu a reais dificuldades.
Quando Sarah se aproximou da proa, comecei a me questionar se ela estava voltando a Malaita só por minha causa. Talvez houvesse um propósito oculto em seus esforços, como reencontrar o Dr.Carlisle depois 16 anos. Bem, eu no lugar dela também não resistiria à oportunidade.
— Bella, preciso esclarecer uma questão com você. — Sarah retirou os óculos escuros e esfregou os olhos cansados.
— Estou ouvindo.
 Tecnicamente não deveríamos estar aqui. A licença de vôo que minha assistente conseguiu se estende somente até a Nigéria. Não tínhamos permissão para pousar em Porto Moresby.
— Eu já desconfiava. Você sabe... Por causa pista clandestina.
— Mas não se preocupe. Por sorte, contamos com uma lei que permite que a aeronave fique em terra por até 48h no caso de necessidade de reparo. Sinceramente, acredito que não precisaremos apelar para esse artifício. Meus pilotos são muito bons em passarem despercebidos. E também Nova Guiné é um país um tanto... — Sarah procurou a palavra certa, para não soar preconceituosa.
— Eu entendi. — Tentei poupá-la do esforço.
— Só estou tentando dizer que é melhor não passarmos mais do que 24h nessa região. O quanto antes voltarmos para o espaço aéreo internacional melhor. Tudo bem pra você?
— Claro, eu compreendo. — Assenti imediatamente. — Eu só preciso de uma hora com ele, Sarah. — Apertei sua mão com muita gratidão. — Só uma hora.
— Têm sido uma viagem bem atrapalhada. — Ela sorriu mesmo enjoada. — Mas acho que se tivéssemos parado pra pensar em tudo, certamente teríamos desistido por falta de coragem.
— Concordo. — Retribuí o sorriso.
Passamos perto de algumas pequenas ilhas, mas infelizmente Malaita ainda se escondia nas entranhas do Pacífico. Procurando amenizar os enjôos, deitei minha cabeça no colo de Jasper, fechei os olhos e esperei.
Ainda tivemos que percorrer várias milhas náuticas até Sarah finalmente anunciar Malaita. Imediatamente fique de pé e meus amigos se aproximaram, atraídos pela surpreendente visão.
Mesmo a uma considerável distância, a ilha tropical rompia no horizonte, imponente com suas grandiosas montanhas vulcânicas. Por alguma razão, sempre imaginei que Malaita fosse só um pedacinho de terra no meio do oceano, no entanto, estávamos diante de algo monumental.
Tentando não rir das nossas caras abobalhadas, Sarah comentou que a ilha tinha 171 quilômetros de comprimento e 50 de largura. Naquela hora, não tive dúvidas de que era o lugar mais impressionante que eu já vira.
Tão logo o pesqueiro começou a se aproximar da costa, os quilômetros de areia branca, água azul turquesa e enormes palmeiras animaram meus amigos. Quanto a mim, já nem sentia as pernas de tão nervosa que estava.
Os minutos se arrastaram dolorosamente, mas a tortura acabou quando o barco atracou em um pequeno píer. Lá só havia a lancha do Doutor, coberta por uma lona.
Desembarcamos o mais rápido possível, desejando esquecer totalmente o mal estar provocado pelo fétido pesqueiro. Sarah deu apenas metade do valor combinado ao pescador, para garantir que ele retornaria para nos buscar dentro de vinte horas.
Assim que recuperamos o fôlego, seguimos as instruções dele. Primeiro atravessamos a extensa faixa de areia, ficando diante de um paredão de vegetação quase impenetrável. Depois, procuramos por uma trilha, que o pescador garantiu que estava logo ali. Por sorte, Sarah forçou a memória e encontrou a trilha. Essa não media mais do que um metro de largura.
A umidade, os sons incomuns de pássaros e insetos e a diversidade de plantas produziram em mim uma sensação estranha. Certamente consciência de estar mesmo em outro mundo.
Caminhamos por cerca de quinze minutos, sempre fazendo observações sobre o lugar. O pouco, porém útil conhecimento de Sarah nos manteve interessados, evitando que o percurso consumisse o resto de nossas energias.
No fim da trilha, o esforço foi compensado ao encontrarmos uma enorme clareira. Estimei que fosse maior do que um campo de futebol. A casa no meio dela era composta de grandes toras de madeira envernizada, com a base em pedra e telhas de barro escuro. Uma ampla e atrativa varanda circundava a moradia, que mais parecia uma casa de campo do que o reduto de um cientista. O anexo do lado esquerdo era um pouco menor que a casa, mas feito com o mesmo material. Enquanto no lado direito, quase no final da clareira, ficava a mediana estufa agrícola.
— Já chega... Eu vou falar. — Jasper apoiou as mãos nos joelhos, quase caindo de cansaço. — Da próxima vez, vê se arruma um namorado menos difícil, Bella.
— E agora, a gente bate na porta? — Alice fitou Sarah.
— Acho que não vai ser preciso. — Ela disfarçadamente indicou o Doutor, que aparecera na entrada da casa.
O pai de Ed mostrou-se tão surpreso que nem veio ao nosso encontro. Nessa hora imaginei que ele estivesse pensando: meu Deus do céu, o que essa gente louca está fazendo aqui?
 Emmett, me reboca. — Morrendo de vergonha, murmurei pelo canto da boca.
Sem mais delongas, cruzamos a clareira determinados a encontrar Edward. Emm de fato precisou me empurrar até o primeiro degrau da varanda.
— Olá, sejam bem vindos. — Carlisle sorriu, afinal, o que mais podia fazer?
Nós o cumprimentamos educadamente. Em seguida, fui intimada pelos olhares a perguntar por Edward. Lembrando-me de que tinha pouco tempo para conversar com ele, não hesitei.
— Posso falar com seu filho?
O Doutor me analisou por mais segundos do que eu gostaria. Trocou um rápido olhar com Sarah, então respondeu com pesar:
— Ele não está aqui. Sinto muito.

Continua na parte 3...

Caramba... Edward trabalhando na TV em programa próprio... Bella e os amigos indo para Malaita com a ajuda de Sarah... Todos quase morrendo num acidente e falando verdades escondidas... e pra finalizar chegam à Ilha e não encontram Edward... É muita coisa pra um capítulo só, então aguardem a continuação para saber o que vai acontecer em Malaita. Beijos e até amanhã.



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5 comments:

  1. NNNNNNÃÃÃÃÕ VEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEI!MORRI AGR!ACHO QUE O ED NÃO QUER VER A BELLA E MANDOU O BRUCE MENTIRRRR HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH(PSICOTICA EU)

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  2. esse foi um cap mega emocionante ♥I loved♥ beijusculo ate amanha.

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  3. caracaaaaaaaaaaaaa fantastico esse cap
    estao de parabens , aqui tem as melhores fanfics <3

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  4. aaaaaaaaaaaaaaaaa tadinha da belita atravesat o oceano pra falar com EDWARD GOSTOSO E NAO ENCONTRA ELE@@@@ Fl SERIO

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  5. CARAAAAAAAA ESSA FIC E TD DE BOM E +++++++++ UM POUCO!!!

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Forever

É difícil às vezes olhar para trás e ver quanto tempo passou. As amizades conquistadas e algumas perdidas no caminho. A maturidade que inevitável atinge nossas vidas e altera nossos rumos. Aquilo que nos atingiu não podemos mudar, apenas aproveitar para encher nossa história de belos momentos vividos e aprendidos.
Twilight Moms Brasil é parte de mim e espero que seja de você também, Forever.

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TWIMOMS BRASIL INDICA: "PROCURA-SE UM MARIDO" DE CARINA RISSI

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